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sábado, 8 de agosto de 2009


«Igreja – Povo de Deus – em Movimento»

2º. Encontro 28 de maio de 2011 – Santuário Nossa Senhora da Paz – Cidade Líder

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«Pastoral urbana – desafios, impasses e perspectivas».

Subsídio complementar
Texto: Pe. Devair Carlos Poletto

            O presente subsídio de reflexão foi proposto pelo grupo coordenador do que se está chamando «Igreja – Povo de Deus – em movimento». Grupo significativo de presbíteros e leigos que comungam das mesmas preocupações pastorais e teológicas.

            Com a realização deste 2º Encontro, que tem como tema «Pastoral Urbana – desafios, impasses e perspectivas», no dia 28 de maio de 2011, a proposta é apresentar aos participantes alguns pontos que manifestam tal preocupação, de tal forma que ela seja objeto de reflexão permanente das lideranças nas diversas estruturas e níveis das comunidades.

            Acrescente-se a isso a recente publicação do texto «Análise de conjuntura e Sínodo para uma Nova Evangelização», documento 13, da 49ª. Assembleia geral do Episcopado Brasileiro, elaborado pelo Pe. Mário de França Miranda, jesuíta.

Compreender o momento histórico em que vivemos

            Há alguns elementos necessários para se compreender os desafios que o atual momento histórico impõe àqueles que, com seriedade, desejam desenvolver uma Pastoral eficaz no contexto da grande cidade.

            Entretanto, qualquer desenvolvimento para uma ação pastoral -  implica, ao mesmo tempo, a elaboração de análises de conjuntura, sobretudo eclesiais, inseridas no processo de caminhada histórica da Igreja no Brasil e no mundo.

            O Documento de Aparecida, fruto da 5ª. Conferência do Episcopado Latino-Americano, um dos documentos mais avançados nos últimos tempos, chama a atenção para o «agir» evangelizador e pastoral da Igreja em nosso continente. O documento insiste em demonstrar que a ação evangelizadora da Igreja não pode estar desconectada de sua missão num mundo real. «A pastoral da Igreja não pode prescindir do contexto histórico onde vivem seus membros. Sua vida acontece em contextos socio-culturais bem concretos. Estas transformações sociais e culturais representam naturalmente novos desafios para a Igreja em sua missão de construir o Reino de Deus. Em fidelidade ao Espírito Santo que a conduz, nasce dali a necessidade de uma renovação eclesial, que envolve reformas espirituais, pastorais e também institucionais» (DA, 367).

            É preciso, portanto, compreender com seriedade a hora atual, e com atitudes corajosas encarar a realidade e propor novas iniciativas [1] .

Conversão pastoral numa mudança de época

            Não é de hoje que o Magistério da Igreja, sobretudo nos documentos e pronunciamentos do Papa João Paulo II, em seus 27 anos de Pontificado, tem nos alertado para um estado permanente de conversão pastoral, em vista das recentes dificuldades da Igreja – sobretudo no Continente Europeu [2] – no desenvolvimento e ação pastoral da novidade proposta: a «nova evangelização» [3].  Naquele ambiente, a «indiferença religiosa» ganha cada vez mais espaço nos Estados Europeus e vai permeando uma «nova cultura» marcada por certo tipo de ateísmo, que deixou de ser teórico e filosófico e passou para seus aspectos mais práticos [4]. O ateísmo teórico propalado por filósofos e intelectuais nos últimos 30 anos acabou seduzindo parte da elite empresarial e política e demonstra agora – na linha estrutural e formativa dos Estados – o seu rosto. A França é um exemplo. Valentemente, o Papa João Paulo II insistia para que a Europa não se perdesse numa crise de identidade e se reencontrasse olhando para suas bases cristãs em sua origem. Cada vez mais assistimos à penetração dessa onda antirreligiosa nos países da América Latina. Claro que aqui o ambiente cultural e social é outro e ainda não podemos, com certa precisão, ver claramente como essa onda vai penetrando nas consciências individual e coletiva. Se no Continente Europeu o indiferentismo religioso conseguiu avançar, parece que em nosso ambiente religioso e eclesial esse tipo de pensamento encontra certa resistência da própria população, por conta da presença da fé cristã e católica nas diversas camadas culturais [5]. No ambiente eclesial podemos ver, num olhar global, duas grandes tendências de respostas a esse indiferentismo religioso. De um lado, uma tendência que – através dos mais variados movimentos leigos de evangelização – tenta reinstalar um «cristianismo de cristandade»; de outro, uma tendência que após anos de «aparente isolamento» e inércia resiste bravamente e acredita numa espécie de integração com os contornos das sociedades atuais em regime democrático. A primeira tendência procura formar quadros, desde leigos a presbíteros, que puxam a consciência religiosa da população para «trás na história» manifestada numa saudade ignorante dos primeiros tempos da colonização. Claro que essa tendência, na prática, acaba não se sustentando, pois o cristianismo aqui propalado  é meramente institucional, um cristianismo meramente visual e estético, um tipo de «iluminismo religioso».  Jesus de Nazaré, o Ressuscitado, em seu Evangelho do Reino, demonstra claramente que não desejava fazer com que a consciência do povo andasse para trás, mas fosse capaz de – num esforço espiritual de superação dos sistemas – olhar para o presente e caminhar «de esperança em esperança» ao futuro. A segunda tendência persevera num anúncio do Evangelho a partir das mais diversificadas camadas da cultura brasileira. Essa tendência acredita na força das pequenas comunidades e na força da paróquia, como «rede de comunidades» e certa setorização do ambiente urbano num estado permanente de missão e de formação. Trata-se de um olhar que retoma as grandes propostas dos últimos 50 anos, que, por razões diversas, ficaram nos últimos 20 anos congeladas e inertes. Sofridamente retoma o investimento em novas formas de atuação pastoral, adentrando os ambientes urbanos e suas categorias. Com insistência o Papa João Paulo II a isso se refere no documento «Ecclesia in America», e que acabou encontrando ressonância na 5ª. Conferência do Episcopado Latino-Americano, por parte das diversas Conferências Episcopais, sobretudo, a brasileira.

            No documento de Aparecida tal preocupação aparece em quase todo o Documento e, de maneira mais explícita, no número 366: «A conversão pessoal desperta a capacidade de submeter tudo a serviço da instauração do reino da vida. Os bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são chamados a assumir uma atitude de permanente conversão pastoral, que envolve escutar com atenção e discernir “o que o Espírito está dizendo às Igrejas” (Ap 2,29) através dos sinais dos tempos nos quais Deus se manifesta».

            Nas atuais «Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2011-2015», recém-aprovadas,  os bispos apresentam elementos e referências para  se compreender a realidade atual na qual estamos inseridos. Uma reflexão que se faz urgente chegar até as bases das comunidades é a compreensão do item estrutural na análise conjuntural da Igreja. Esse item é o que se chama de «mudança de época». «A Conferência de Aparecida nos oferece rica indicação, ao recordar que vivemos um tempo de transformações profundas, que afetam não apenas este ou aquele aspecto da realidade, mas a realidade como um todo, chegando aos critérios de compreensão e julgamento da vida. Estamos diante de uma globalização que não é apenas geográfica, no sentido de atingir todos os recantos do planeta. Estamos, na verdade, diante de transformações que atingem também todos os setores da vida humana, de modo que já não vivemos uma “época de mudanças, mas uma mudança de época”. O que antes era certeza, até bem pouco tempo servindo como referência para viver, tem se mostrado insuficiente para responder a situações novas, “deixando as pessoas estressadas ou desnorteadas” [6] . O Documento apresenta também todo um capítulo - «Marcas de nosso tempo» -  em que procura elencar as marcas de tal momento histórico que a Igreja está vivendo mundialmente.

            Vivemos num período histórico desestruturador: crises de referências e de identidades causando «perda do chão». Inseridos que estamos em culturas estabelecidas pelos últimos séculos, ainda sentimos dificuldade em compreender os novos paradigmas que rejeitam a presença da Igreja no mundo atual como uma Instituição que transmite certa manifestação de fé no atual contexto de pluralismo religioso e cultural. Essa situação nova de «pluralismo» parece rejeitar qualquer elemento de fé no processo de elaboração de «novas culturas» que vão se delineando ao longo do tempo, pois, a cada ano e nas últimas décadas, sentimos na realidade da vida do povo em nossas comunidades certo distanciamento.

Nova evangelização

            No Instrumento de Trabalho proposto para o Sínodo dos Bispos a ser realizado, o tema e eixo norteador são o que o Papa João Paulo II chamava de «nova evangelização». Ele insistia para que os diversos níveis de ação pastoral da Igreja buscassem novos métodos e novo ardor em suas expressões. Aparentemente, o Papa Bento XVI acena para o resgate das grandes linhas do pensamento teológico e pastoral de seu  antecessor.

            O próprio Documento de Trabalho do Sínodo para a Nova Evangelização deixa claro que não se trata de negar a evangelização realizada nos últimos séculos; a marca principal e nova da evangelização é buscar com coragem novos caminhos para o tempo novo que vivemos [7] . Estranhamente, a expressão «nova evangelização» é encontrada somente em um único parágrafo das novas diretrizes, 2011 a 2015 [8] fazendo uma alusão à constituição dogmática «Dei Verbum» do Concílio Vaticano II. «Nova Evangelização não significa um “novo Evangelho”, porque «Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre» (Hb. 13,8). Nova evangelização significa: uma resposta adequada aos sinais dos tempos, às necessidades dos indivíduos e dos povos de hoje, aos novos cenários que desenham a cultura através da qual dizemos a nossa identidade e procuramos o sentido das nossas vidas. Nova evangelização, portanto, significa promover uma cultura profundamente enraizada no Evangelho; significa descobrir o novo homem em nós, graças ao Espírito que nos foi dado por Jesus Cristo e pelo Pai» (Lineamenta, n. 23).

Nova evangelização tem a ver com Pastoral Urbana

            O Papa João Paulo II dava a entender, no conjunto dos ensinamentos em seu magistério, que o que ele chamava de «nova evangelização» tinha a ver com a mudança significativa e acelerada do cenário da presença da Igreja num mundo caracterizado hoje pelo fenômeno urbano marcado por uma «desestruturação cultural» alienante e anti-humanista, indiferentista e burguesa [9]

            Tanto o Documento de Aparecida, como os Lineamenta para o Sínodo dos Bispos, como reflexos do pensamento do Papa João Paulo manifestam preocupação com o atual jeito de ser Igreja, sobretudo no ambiente paroquial, ainda marcado por uma pastoral sacramentalista e uma entidade somente de «prestação de serviços, sobretudo de oferta de sacramentos» [10] . São urgentes e radicais as mudanças na configuração da Instituição Paroquial para que ela responda, às necessidades de hoje. Literalmente diz o Documento de Aparecida, nº 518:            «518. Para que os habitantes dos centros urbanos e de suas periferias, cristãos ou não cristãos, possam encontrar em Cristo a plenitude de vida, sentimos a urgência de que os agentes de pastoral, enquanto discípulos e missionários, se esforcem para desenvolver:

            a) Um estilo pastoral adequado à realidade urbana com atenção especial à linguagem, às estruturas e práticas pastorais, assim como aos horários.

            b) Um plano de pastoral orgânico e articulado que se integre em projeto comum às paróquias, comunidades de vida consagrada, pequenas comunidades, movimentos e instituições que incidem na cidade, e que seu objetivo seja chegar ao conjunto da cidade. Nos casos de grandes cidades onde existem várias Dioceses, faz-se necessário um plano inter-diocesano.

            c) Uma setorização das paróquias em unidades menores que permitam a proximidade e um serviço mais eficaz.

            d) Um processo de iniciação cristã e de formação permanente que retroalimente a fé dos discípulos do Senhor, integrando o conhecimento, o sentimento e o comportamento.

            e) Serviços de atenção, acolhida pessoal, direção espiritual e do sacramento da reconciliação, respondendo à solidão, às grandes feridas psicológicas que muitos sofrem nas cidades, levando em consideração as relações inter-pessoais.

            f) Uma atenção especializada aos leigos em suas diferentes categorias: profissionais, empresariais e trabalhadores.

            g) Processos graduais de formação cristã com a realização de grandes eventos de multidões, que mobilizem a cidade, que façam sentir que a cidade é um conjunto, é um todo, que saibam responder à afetividade de seus cidadãos e em linguagem simbólica saibam transmitir o Evangelho a todas as pessoas que vivem na cidade.

            h) Estratégias para chegar aos lugares fechados das cidades como aglomerados de casas, condomínios, prédios residenciais ou lugares assim chamados cortiços e favelas.

            i) A presença profética que saiba levantar a voz em relação a   questões de valores e princípios do Reino de Deus, ainda que contradiga a todas as opiniões, provoque ataques e só fique no anúncio. Isto é, que seja farol de luz, cidade colocada no alto para iluminar.

            j) Maior presença nos centros de decisão da cidade, tanto nas estruturas administrativas como nas organizações comunitárias, profissionais e de todo tipo de associação para velar pelo bem comum e promover os valores do Reino.

            k) A formação e acompanhamento de leigos e leigas que, influindo nos centros de opinião, se organizem entre si e possam ser assessores para toda a ação social.

            l) Uma pastoral que leve em consideração a beleza no anúncio da Palavra e nas diversas iniciativas, ajudando a descobrir a beleza plena que é Deus.

            m) Serviços especiais que respondam às diferentes atividades próprias da cidade: trabalho, descanso, esportes, turismo, arte etc.

            n) Uma descentralização dos serviços eclesiais de modo que sejam muito mais os agentes de pastoral que se integrem a esta missão, levando em consideração as categorias profissionais.

            o) Uma formação pastoral dos futuros presbíteros e agentes de pastoral capaz de responder aos novos desafios da cultura urbana».


Conclusão

            Seria muita pretensão apresentar uma conclusão fechada do tema abordado, até porque - ainda que timidamente - esperamos que, na prática esse jeito novo de ser Igreja vá adentrando numa reflexão da teologia do fenômeno urbano e consequentes ações pastorais. Mas, não se pode deixar de assinalar a lentidão quase «caramújica» no ambiente dos diversos níveis da estrutura em que vivemos. Talvez, seja aquilo que os Lineamenta chamam de «apreensão e medo» (L. n. 24), ou porque se acredita que não haja nem presbíteros, nem religiosos e religiosas, nem leigos e leigas preparados para uma ação prática. É, sem dúvida, um equívoco grande esse jeito de pensar. É fruto de um pensamento centralizador e arrogante, em que as consagradas palavras «comunhão e participação», passam longe do ambiente presbiteral, com consequentes e graves ressonâncias junto aos leigos e leigas nas Paróquias e Comunidades. Tal atitude, consciente e acomodada,  reforça certo tipo de fundamentalismo, contrariando os rumos e pistas teológicas e pastorais do magistério pontifício, desde Leão XIII.


[1] Cf. Miranda, Mário de França. «Conjuntura Eclesial e Sínodo para uma Nova Evangelização», documento 13, da 49ª. Assembleia Geral da CNBB.
[2] Idem. Ibidem.
[3] VER: «Sínodo dos Bispos – XIII Assembleia Geral Ordinária - «A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã». Lineamenta. 2011.
[4] VER: LENAERS, Roger. «Outro cristianismo é possível – A fé numa linguagem Moderna». Editora Paulus, 2010.
[5] Cf. Miranda, Mário de França. Ob. Citada, página 2: «De fato, nosso povo conserva uma religiosidade básica, já diminuída ou simplesmente desaparecida em países do Primeiro Mundo. Entretanto, observada mais de perto, esta religiosidade não significa sem mais que estejam evangelizados. Encontramos em alguns um catolicismo superficial, limitado a práticas religiosas de cunho emocional, voltado para a obtenção de valores, ou ainda fechado em si mesmo, sem se importar com o próximo».
[6] CNBB. «Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2011-2015», n. 19.
[7] Cf. Lineamenta, n. 5.
[8] Trata-se do número 119: «Este diálogo se faz ainda mais urgente no contexto eclesial da “nova evangelização, mantendo e proclamando com firmeza os elementos essenciais da fé como adesão intelectual à Revelação, num ambiente fortemente carregado de sentimentalismos efêmeros e emocionalismos insaciável».
[9] VER: POLETTO,  P. Devair Carlos apud REGIONAL SUL 1, CNBB. «O fenômeno urbano – desafio para a pastoral». Editora Vozes. Coleção «Lançai as redes». 1995.
[10] MIRANDA, Mário de França. Ob. Citada, página 6. 

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