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sábado, 8 de agosto de 2009

Carta à minha Igreja

«Igreja – Povo de Deus – em Movimento»

Esta carta foi lida pelo Frei Beto, no 2º. Encontro da “IGREJA – POVO DE DEUS – EM MOVIMENTO, 28/5/2011, no Santuário Nossa Senhora da Paz, Cidade Líder, Zona Leste-SP.

Carta à minha Igreja

Carta da Leiga Cristã: Laurette Lepage para o Cardeal Marc Ouelett,
                            Québec, Canadá, 3 de Janeiro de 2010.

Caro Cardeal Dom Ouellet

1.  No dia sete de novembro de 2007, enviei-lhe uma carta para a qual eu nunca recebi uma resposta, mas eu me consolo pensando que cartas como a minha, você deve ter recebido bastantes. E o que responder?…
Basicamente, eu lhe falava de «meu sofrimento com a Igreja, da diferença entre a mensagem repleta de espontaneidade e de liberdade do Evangelho e o discurso abstrato, moralizante e pesado de uma instituição que parece estar morrendo». Eu tinha então 84 anos. Hoje tenho 87, mas eu não envelheci muito, pois estou ainda com o mesmo mal-estar em relação à Igreja.

2.  Esta manhã, dia da Epifania de 2010, refletindo sobre as palavras da liturgia: «Levanta-te, Jerusalém! Resplandece: chegou a tua luz », eu ainda sinto dificuldade em encontrar minha esperança. Perante a crise que estamos vivendo, ou melhor, a mutação de um mundo em contínua mudança, sinto-me presa, repartida e bloqueada entre a tendência a voltar às boas e velhas receitas do passado para superar a crise, e a consciência sempre maior de que há outra maneira de traduzir a fé e de ser Igreja no mundo de hoje. Basicamente, o que se joga a nível eclesial, é uma luta entre o Vaticano II e uma volta para o passado. Por não ser capaz de olhar para frente e inventar algo novo, tentamos escorar o que está desmoronando: fechamento de igrejas, re-reagrupamento de paróquias, importação do clero estrangeiro, etc. Tudo isso, apoiado por um discurso de medo do modernismo, do relativismo, da cultura da morte.


3.  Que contraste com a Boa Nova de Jesus, que, ao contrário, não é senão alegria, respeito, ternura, cura dos medos e das angústias, esperança perante todas as situações!
Felizmente, há cada vez mais leigos católicos a saírem do medo e a se engajarem com sua fé no mundo de hoje e, muitas vezes, paralelamente ou mesmo fora da Igreja oficial. Desde o Concílio Vaticano II, a compreensão da fé se desenvolveu com o estudo, o acesso à Bíblia, a partilha em pequenos grupos. E que dizer dos efeitos da Internet, dos meios de comunicação cada vez mais sofisticados? Mas a instituição muitas vezes ignora ou ainda suspeita das responsabilidades tomadas fora de seu controle. Prefere-se um cristianismo dobrado sobre os ritos.


4.  Os cristãos de hoje não querem ser tratados como crianças. Segundo eles, a linguagem da Igreja tornou-se ultrapassado, chata, repetitivo, moralizante, totalmente inadequado para os nossos tempos. O discurso eternamente repetido sobre o casamento, aborto, eutanásia, homossexualidade, casamento dos padres, dos divorciados e recasados, não toca mais ninguém. Não vale mais a pena continuar a repetir velhos chavões, mas é preciso inventar uma nova linguagem para reafirmar a fé de maneira pertinente e significante para o mundo de hoje.
Nossos cristãos, aprenderam a pensar por si próprios e não estão mais dispostos a engolir qualquer coisa. Porque a fé que lhes é apresentada é abstrata, cerebral, dogmática e fala muito pouco ao coração e ao corpo. Por isso, muitos vão procurar em outro lugar o alimento que eles já não encontram em nossas igrejas. Eles têm sede de sentido. Eles querem ouvir uma palavra de vida e de liberdade e querem uma verdadeira co-responsabilidade numa Igreja «Povo de Deus». A força revolucionária da semente já não está lá, no Povo de Deus, bem mais do que numa igreja de tijolos? Mesmo na rua, eles fazem igreja, quando eles têm um gesto gratuito do amor pelo outro, o estranho, o estrangeiro.
Aliás, na passagem do ano de 2010, foi bonito ver a Grande Alameda, na cidade de Quebeque, verdadeiro templo a céu aberto, onde milhares de pessoas, esquecendo todas as fronteiras, saudavam, em festa, o ano novo. Também foi bonito ver em torno de uma mesa de jantar, as pessoas compartilharem até de madrugada, os seus sonhos de verem uma Igreja mais próxima da vida e do mundo real.

5.  Quando será que, nesses pequenos grupos, teremos um sacerdote, homem ou mulher, saído
desta mesma comunidade, para celebrar a Eucaristia no final dessa partilha, como nos primeiros tempos do cristianismo? O ano sacerdotal, não seria ele uma oportunidade única para responder a este sopro do Espírito que se manifesta nestes latentes apelos de nosso mundo de hoje? .
Os ministérios ordenados, tão encorajados pelo Concílio, e as vocações sacerdotais, não emergirão elas entre os pequenos grupos e as comunidades vivas, mais do que nos seminários? Isto implicará, naturalmente, numa profunda relação de amizade entre sacerdotes e leigos. Eu, dizia Cristo, chamei-vos amigos, porque eu vos revelei os meus segredos. Para que haja amizade também é preciso saber como comunicar seus sentimentos, compartilhar a sua vida espiritual e remover cercas. Não se pode chamar um amigo de «excelência», «eminência» ou «dom»: nós somos todos irmãos! Adeus, portanto, aos tronos, às mitras e aos turíbulos! Há algo sobre que sonhar, ao pensarmos n´Aquele que lavou os pés de seus amigos, enquanto todos estavam à mesa …

6.  O Vaticano II quis para a Igreja uma nova imagem de diálogo e de abertura. Mas olhem o que aconteceu: esta imagem está sendo cada vez mais rejeitada. Resolvem-se os problemas não através do diálogo e da discussão aberta, mas unicamente pelas diretivas ditadas de cima. A centralização romana está ainda mais forte do que antes do Concílio. As igrejas locais não têm mais autonomia e os bispos só podem receber ordens do Papa e da Cúria. Foi em relação à colegialidade que o Vaticano II sofreu o seu maior fracasso.

7.  Perante esta constatação deprimente, a Igreja se consola com a constatação de uma certa renovação na sua ala mais tradicional, como também nos países do Terceiro Mundo. Então ela colocou a sua confiança no Senhor, que a sustentou durante vinte séculos e que tem promessas da vida eterna. Mas será que ela leva em consideração a Constituição Lumen Gentium, que reconhece que a comunidade é animada pelo Espírito que fala no seu íntimo, na liberdade de consciência e que é se dirigindo a cada um(a) que este mesmo Espírito guia o Povo de Deus?

8.  Diante destas decepções e da lentidão dos passos para diante, não se pode, de maneira alguma baixar os braços. A pior atitude seria a resignação. A esperança e a vontade de agir se impõem. Embora não faltem motivos para se queixar e lamentar, é preciso coragem para agir com determinação nas bases, para que se promova uma Igreja mais vibrante. Porque a Igreja não é só o Papa, a cúria romana e os bispos. Não há nada que possa impedir as pessoas de seguirem o Concílio Vaticano II e de agir conforme seus impulsos e seus princípios. Mas, batizados esclarecidos, isso causa medo à hierarquia!

9.  É com alegria que eu estou descobrindo ao meu redor, mas à margem, uma Igreja muito viva, apesar dos templos quase vazios. Enquanto uma Igreja se afasta de nós, se dobra sobre o passado e se torna estrangeira, uma outra Igreja mostra novos rebentos, onde a vida nos incita a aprofundar o nosso encontro com Jesus de Nazaré, nas nossas comunidades e na luta por uma sociedade mais justa e mais humana. «Felizes vós, pobres, porque o Reino dos céus está em vossas mãos! »
É assim, as pessoas que frequento na base, me olham amarrada aos gritos e às esperanças do nosso mundo, onde descobrimos um Outro Rosto. Para mim, estes lugares são os alicerces da Igreja de amanhã. Continuo, porém, como eu disse anteriormente, bloqueada entre odres velhos e novos, e isso é desconfortável!


10.             Caro Cardeal Dom Ouellet, gritos como este, você deve recebê-los de todas as fontes e todos os matizes. Ainda podemos esperar algo dessa igreja, ou é melhor se agarrar a estas palavras de Jesus: «Deixa que os mortos enterrem seus mortos, e tu vai e anuncia o reino de Deus» (Lc 9, 59)
Na esperança de que o vinho novo em breve fluirá em odres novos, nós nos deixamos confortar por estas palavras de São Paulo: «É para que sejamos livres que Cristo nos libertou » (Gl 5, 1 ). E : «se o Espírito nos faz viver, vivamos também de acordo com o Espírito». (5, 25)!
Vamos, sigamos os Reis Magos e procuremos a estrela, mesmo que o cansaço e o desgaste tantas vezes atrapalhem nossos passos. A fé não tem medo, mesmo que às vezes seja noite …

Laurette Lepage,  Phone 418-582-3658132,  Av 1 E St-Gédéon, QC, Canadá

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