Apresentação MEJ Brasil - 1º Congresso Mundial do MEJ - 2012

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domingo, 31 de julho de 2011

LITURGIA DA PALAVRA: DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração


SÃO PAULO, quinta-feira, 28 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à Liturgia da Palavra do 18º domingo do Tempo Comum – Is 55, 1-3; Rm 8, 35-37.39; Mt 14, 13-21 –, redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT. 
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18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – A
Dai-lhes vós mesmos de comer
Leituras: Is 55, 1-3; Rm 8, 35-37.39; Mt 14, 13-21
Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes” (Mt 14, 14).
Eis que o reino de Deus, semente espalhada com generosidade em todo tipo de terreno, boa semente no meio do joio, pequeno grão de mostarda das potencialidades inesperadas, tesouro escondido no campo a ser procurado com discernimento vigilante e perseverança, vem à luz e se manifesta em toda sua energia vital em Jesus, que não mostra potência, mas se enche de compaixão ao ver o povo que o está procurando com tamanha insistência (Mt 14, 14).  
O povo que procura por Jesus e o segue, vagando como ovelhas sem pastor, faminto da sua palavra e da esperança por ele suscitada, impele Jesus a sair de um cuidado prudente para consigo mesmo e para com seus queridos discípulos. 
Para si e para eles tinha procurado um lugar deserto e afastado, para se subtrair à pressão do poder prepotente - manifestado na morte violenta de João pelas mãos de Herodes - e por um pouco de descanso, depois da fatigosa missão dos doze (Mt 14, 3; Mc 6, 31-32). 
Escolha razoável, “mas, ao ver...”. O que Jesus vê o impele a sair do próprio cuidado, para encontrar e assumir sobre si mesmo o outro, o povo sofrido. Ele escreve na sua pele o ensino que vai transmitir aos discípulos, como condição essencial para tornar-se seu discípulo: “Aquele que acha a sua vida, a perderá, mas quem perde a sua vida por causa de mim, a acha” (Mt 10, 39). “Vinde a mim, todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo, e vos darei descanso” (Mt 11, 28).
Mais uma vez, na atitude compassiva e solidária de Jesus se manifesta o coração do Pai, desde sempre atento em ver a miséria, em ouvir o grito dos sofridos, e a intervir para abrir novos caminhos em favor deles (cf. Ex 3, 7-8). O Verbo de Deus, pelo qual tudo foi feito e no qual tudo tem consistência, continua a se fazer carne, a se esvaziar de poder, a assumir como própria a fraqueza de cada um, e a revelar assim a proximidade do Pai aos pequeninos (cf. Jo 1, 14. 18). 
Nele, o céu desce à terra e a terra encontra o céu, naquele admirável intercâmbio que faz Deus tornar-se homem e o homem participar da vida de Deus. O cuidado na cura dos doentes ilumina a missão de Jesus, colocando-o no caminho do “Servo do Senhor”, que leva sobre si nossos sofrimentos, carrega nossas dores e nos cura por suas feridas (cf. Is 53, 4-5). O reino de Deus, escondido no campo e na pequenez do grão de mostarda, se torna experiência de renascimento à vida feita pelos pobres e famintos. Hoje, assim como ontem. A Palavra eficaz de Jesus manifesta sua energia vital para com todos aqueles que a procuram e se abrem a ele com fé.
A mesma estrutura narrativa do evangelista nos revela este dinamismo.  
O acontecimento da alimentação milagrosa da multidão feita por Jesus marca uma passagem decisiva no processo da auto-revelação de Jesus como messias e da sua ação messiânica.  A multiplicação dos pães é testemunhada por todos os evangelistas. Enquanto Lucas (9,10-17) e João (6,1-13) a narram como um episodio único, Mateus (Mt 14,13-21; 15,32-39) e Marcos (Mc 6,30-44; 8, 1-10) a relatam duas vezes, caracterizando cada narração com acentos diferentes. Os estudiosos do NT observam que, através desta estrutura literária, os evangelistas destacam a atualidade da ação de Jesus e da Palavra de Deus, que se exprime e atua em contextos diferentes da vida do povo.
Enquanto a primeira narração de Mateus evidencia a missão e a ação de Jesus em prol do povo de Israel, em cumprimento das promessas de Deus aos patriarcas e aos profetas, a segunda sublinha sua extensão em favor dos pagãos. Jesus é o enviado do Pai para todos, e para todos os tempos e situações culturais, raciais, religiosas. Uma lição que a comunidade dos discípulos apreendeu aos poucos e com grande fatiga, e não sem contradições, como nos atestam as mesmas narrações evangélicas, os Atos dos Apóstolos e a história da Igreja ao longo dos séculos.  
O contexto literário comum às duas narrações da multiplicação dos pães é constituído pelo deserto, pela procura do caminho de Deus, pela fome física e espiritual do povo. Elementos simbólicos de alta ressonância para ouvintes e leitores do evangelho, familiarizados com acontecimentos bem conhecidos do Antigo Testamento: a saída de Israel do Egito, com a dura experiência do deserto e a intervenção extraordinária de Deus, que alimenta seu povo com o maná (Ex 16; Nm 11); a multiplicação do azeite e do pão por parte do profeta Eliseu em prol da viúva (2 Rs 4). 
Jesus, com seu gesto de solidariedade, atua como o verdadeiro Moisés, o profeta de Deus. Realiza o plano de Deus e oferece o alimento escatológico, capaz não somente de saciar a fome do corpo, mas de doar a vida plena.
Ele mesmo tinha vivenciado a experiência do deserto no início da sua missão. Submetido às provações, não aceita o convite do diabo para recorrer aos milagres. Pelo contrário, reafirma, diferentemente do Israel do deserto, que o verdadeiro pão que sustenta no caminho da vida não é o que o homem pode providenciar para si mesmo, mas a palavra de Deus: “Não de só pão vive o homem mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). 
Este é o mesmo caminho que Jesus indica aos discípulos, como destaca a grande reflexão do próprio Jesus sobre o pão, na sinagoga de Cafarnaum, referida por João (Jo 6, 22 - 71).
Os discípulos, porém, estão ainda longe das perspectivas do mestre. São homens muito razoáveis: pedem a Jesus que ele despeça o povo, pois as condições do lugar deserto e a hora do tempo sugerem que o melhor é que o povo seja mandado embora para que cada um providencie para si mesmo. “Jesus porém....” (Mt 14, 16) tem outros critérios: o da solidariedade com o povo e o da confiança no Pai. Ele convida os discípulos a entrar no seu mesmo horizonte e a tornarem-se colaboradores ativos da sua escolha tão diferente: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16).
A resposta dos discípulos não pode que destacar a absoluta desproporção dos meios à disposição diante da enorme necessidade: “Só temos cinco pães e dois peixes” (14, 17). Ele, porém, os transforma em colaboradores confiantes e ativos, pela fé que brota silenciosamente dos seus corações. 
A escolha e o chamado inicial dos discípulos a segui-lo, assim como o chamado dos profetas a se tornarem voz e braço de Deus no meio do povo (cf. Is 6, 1-10; Jer 1, 4-10), não foram diferentes. Sempre acompanhados pela promessa: “Não temas, eu estou contigo”. Ontem, assim como hoje. 
Na fragilidade do colaborador se manifesta a gratuidade e o poder da graça, nos lembra São Paulo ( 2 Cor 4,7).
Jesus acolhe as necessidades do povo em toda sua complexidade. Cuida do corpo, assim como do espírito, da fome física, assim como da palavra de vida. E abre o caminho para o pão que dá a vida plena e abundante, sendo ele mesmo o pão doado do Pai, que sustenta o povo na caminhada ao longo da história, até sua vinda gloriosa. 
A fé da Igreja, desde a mais antiga tradição, vislumbrou na multiplicação dos pães o pão escatológico por excelência, a eucaristia, da qual se alimenta no dia do Senhor.  
Na luz desta fé, o evento milagroso da multiplicação dos pães é narrado com a sucessão dos gestos de Jesus que constituem a estrutura da celebração eucarística desde a primeira tradição conhecida: “Jesus tomou os pães... ergueu os olhos para o céu... pronunciou a bênção... partiuos pães e os deu aos discípulos... Os discípulos os distribuíram” (14,19). A eucaristia é indicada nesta maneira como o lugar onde o próprio Jesus forma e alimenta o povo peregrinante de Deus.
Do quase nada, em relação ao número das pessoas, brota a superabundância, como da semente de mostarda brota o grande arbusto onde os pássaros fazem o ninho. “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão.... Vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura” (Sl 144- Responsorial).  
Tal é a experiência que pode testemunhar todo aquele e aquela que se entrega com fé ao Senhor, até nas circunstâncias mais difíceis da vida. A entrega confiante e quase temerária ao seu amor se transforma em profunda alegria e inesperada paz. “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome?... Em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!” (Rm 8,35 – segunda leitura).
Hoje a comunidade cristã se encontra por sua vez na condição de enfrentar novos horizontes e desafios, nos quais a fome do homem e da mulher contemporânea assume novas formas e profundidades. Junto com a fome material, provocada pelos desequilíbrios sociais e econômicos, se eleva forte, embora confuso, o grito da fome espiritual e do sentido da vida por parte de tantas pessoas. 
No seu recente discurso à FAO, papa Bento XVI destacou a dramaticidade desta situação e a exigência de uma profunda conversão pessoal e de mudanças das estruturas políticas e econômicas para deparar o drama, também através do empenho de pessoas honestas no âmbito profissional e político, come ele destacou em outras ocasiões: “A pobreza, o subdesenvolvimento, e portanto, a fome, são com freqüência os resultados de atitudes egoístas que, partindo do coração do homem, se manifestam no seu agir social, nas mudanças econômicas, nas condições do mercado, na falta de acesso ao alimento e traduzem-se na negação do direito primário de cada pessoa e nutrir-se e, portanto, e ser libertada da fome”[1]. 
Como fazer com que estas pessoas possam encontrar a compaixão de Jesus, e que o pão da vida seja distribuído também a elas?
Que não aconteça que, fechados nos pequenos mundos do passado, ligados a atitudes pastorais que tendem a repetir a si mesmas mais do que abrir-se aos novos pedidos, contentes de repetir nossa linguagem eclesiástica, herdeira de outro contexto cultural e espiritual, corramos o risco de oferecer pedras a quem nos pede pão, e cobras a quem nos procura peixes, como nos admoesta Jesus (cf Mt 7, 9). 
Mateus e Marcos, com a dupla narração da multiplicação dos pães, nos ensinam que é preciso saber atualizar a palavra, para que Jesus possa continuar a atuar na vida de cada um. O Concílio Vaticano II não propôs à Igreja inteira o critério da “fidelidade dinâmica e criativa” ao evangelho e à tradição doutrinal e espiritual, para ficar fiel ao Senhor e à missão em prol dos homens e das mulheres do nosso tempo, para os quais ela é enviada como a Esposa solícita do Verbo vivente do Pai?
É realmente a palavra do Senhor o que estamos oferecendo ao povo de Deus no nosso ensino e em nossas homilias, ou, às vezes a misturamos e substituímos com palavras piedosas de nossa invenção, do nosso grupo, da nossa ideologia, talvez prometendo até milagres? 
Paulo com clareza denuncia que a falta de solidariedade para com os irmãos necessitados constitui uma contradição radical com a celebração da ceia do Senhor (cf 1 Cor 10, 20-22), 
“quem não reconhece” o corpo do Senhor, que é o eucarístico e também a comunidade, “come e bebe a própria condenação” (1 Cor 10, 29). 
A tomada de consciência da seriedade e da beleza da participação à eucaristia se faz invocação humilde para que o Senhor sustente com o pão da vida o caminho coerente da comunidade: “Acompanhai, ó Deus, com proteção constante os que renovastes com o pão do céu e, como não cessais de alimentá-los, tornai-os dignos da salvação eterna” (Oração depois da comunhão) 
Notas: 
1. Discurso aos participantes à XVII Conferencia  da Organização das Nações Unidas para a Alimentação  e a Agricultura – FAO  em inglês - Roma , 1 de julho 2011.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28572?l=portuguese (Acesso 30/07/2011 às 19h10)

sábado, 30 de julho de 2011

PERIGO PARA OS JOVENS, A POBREZA DE AMOR

Mensagem do Papa no quinto centenário dos padres somascos


CASTEL GANDOLFO, sexta-feira, 29 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Faltando alguns dias para a Jornada Mundial da Juventude de Madri, Bento XVI encorajou os jovens a abandonar algumas pobrezas que os assolam, começando pela falta de amor.
"É necessário – ressalta o Papa em uma carta – que o crescimento das novas gerações seja alimentado não só por noções culturais e técnicas, mas sobretudo pelo amor, que supera o individualismo e o egoísmo, e permite prestar atenção às necessidades de todo irmão e irmã.” 
Por esta razão, o Santo Padre chama a "se preocupar com toda pobreza de nossos jovens, moral, física, existencial e, acima de tudo, a pobreza de amor, a raiz de todo problema sério humano".
Este é o conselho que o pontífice deixa na carta enviada ao superior geral dos religiosos somascos, com ocasião do Ano Jubilar convocado pela Ordem no quinto centenário da libertação milagrosa de seu fundador, São Jerônimo Emiliani (1486-1537), da prisão.
A carta apresenta o exemplo do jovem soldado Jerônimo, cuja vida mudou na noite de 27 de setembro de 1511, depois de ter sido feito prisioneiro na guerra entre a República de Veneza e os Estados da Liga de Cambrai.
Depois de fazer um voto de mudança de vida para a Virgem, recuperou a liberdade de uma forma inexplicável.
"Impelido por vicissitudes familiares – ele tinha se tornado guardião de todos os seus sobrinhos que ficaram órfãos –, Jerônimo amadureceu a ideia de que os jovens, especialmente os mais necessitados, não podem ser abandonados, mas que, para crescer, precisam de um requisito essencial: o amor”, explicou o Papa.
"Nele, o amor supera a sagacidade, e dado que era um amor que surgia da própria caridade de Deus, estava cheio de paciência e compreensão: atento, terno e disposto ao sacrifício, como o amor de uma mãe", escreve o bispo de Roma.
Os religiosos somascos, fundados por São Jerônimo como “companhia dos servos e dos pobres" até o ano de 1534, assumem o nome da cidade italiana onde nasceu e morreu seu fundador, Somasca. Eles se dedicam, em particular, à educação cristã da juventude.
Os Somascos contam com 463 religiosos, dos quais 338 são sacerdotes, espalhados pela Europa, América e Ásia.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28586?l=portuguese (Acesso 30/07/2011 às 19h06)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

MUNDO SEM ARMAS NUCLEARES É POSSÍVEL

Representante vaticano recorda doutrina sobre essas armas


KANSAS CITY, quarta-feira, 27 de julho de 2011 (ZENIT.org) – “Um mundo sem armas nucleares não só é possível, converteu-se em algo urgente”, afirma um representante do Vaticano na ONU.
O arcebispo Francis Chullikatt fez essa afirmação há duas semanas, em Kansas City. Ele foi convidado pelo departamento diocesano de direitos humanos para dar uma visão geral da doutrina da Igreja sobre as armas nucleares.
Seu discurso formou parte do compromisso diocesano de educar o público sobre a doutrina da Igreja nessa matéria. É uma resposta contra o projeto de construção de uma planta de armas nucleares em Kansas City.
“Está-se dando uma nova atenção à matéria sem resolver o problema das 20.000 armas nucleares localizadas em 111 lugares, em 14 países”, disse o prelado.
“Mais da metade da população mundial vive em um país que tem armas nucleares. A cada ano, as nações gastam 100 bilhões de dólares para manter e modernizar seus arsenais nucleares.”
Dissuasão
Dom Chullikatt, que é indiano, recordou que os padres do Concílio Vaticano II, apesar de advogarem por uma proibição universal contra a guerra, “com a compreensão que tinham naquele momento”, disseram que “o acúmulo de armas serviriam como dissuasão ante um possível ataque inimigo”.
O Papa João Paulo II esclareceu em 1982, em um discurso à ONU, que “uma dissuasão baseada no equilíbrio, não certamente como um fim em si mas como uma etapa no caminho de um desarmamento progressivo, pode ainda ser julgada como moralmente aceitável”.
“Essa declaração deixou claro que a dissuasão nuclear durante os anos da Guerra Fria só podia ser aceitável se conduzisse a um desarmamento progressivo. O que se pretendia, portanto, não era a dissuasão nuclear como uma política única e permanente”, explica Dom Chullikatt. “Esta é a principal questão da dissuasão: a aceitação moral da Igreja esteve sempre condicionada ao avanço para sua eliminação”.
Depois da Guerra Fria
Após a Guerra Fria, a pressão internacional aumentou para deter a proliferação de armas nucleares. Os esforços da Igreja também aumentaram, centrando-se “no desafio que consideramos como a institucionalização da dissuasão”.
“A dissuasão não estava sendo considerada como uma medida provisória. Pelo contrário, os Estados com armas nucleares começaram a buscar uma vantagem nuclear, enfatizando que as armas nucleares eram fundamentais para suas doutrinas de segurança”.
Tal era a situação que em 2005, quando as nações se reuniram para revisar o Tratado de Não-Proliferação, tal tratado estava à beira do colapso. Os compromissos do desarmamento foram ignorados e o próprio conceito da eliminação foi rejeitado pelos Estados com armas nucleares.
A Santa Sé reitero sua posição de que a dissuasão nunca foi aceita como medida permanente e foi tolerada só como um passo no caminho do desarmamento nuclear progressivo. 
No ano seguinte, na mensagem para o Dia Mundial da Paz, Bento XVI recordou que “em uma guerra nuclear não haveria vencedores, só vítimas”.
O Santo Padre observou também que o dinheiro gasto na manutenção e no desenvolvimento dos arsenais supera amplamente o dedicado a ajudar os povos.
O representante vaticano citou o Papa, que pediu “negociações para um desmantelamento progressivo e de mútuo acordo das armas nucleares” e, no ano passado, pediu aos delegados da Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear que “superem as cargas da história”.
“A partir dessa doutrina, a Igreja sublinha sua cada vez maior aversão às armas nucleares”, afirmou o arcebispo.
Esforço
Dom Chulikatt cobrou um maior esforço na eliminação das armas nucleares.
Ele lamentou que as negociações integrais solicitadas pelo Tribunal Internacional de Justiça não tenham começado. O tratado START, entre os EUA e a Rússia, só faz pequenas reduções e deixa intacto um amplo arsenal nuclear por ambas partes.
O prelado destacou como o secretário geral fez um apelo por uma nova convenção ou pelo fortalecimento mútuo de instrumentos para eliminar as armas nucleares, apoiado por instrumentos eficazes de verificação.
“A Santa Sé apoia este plano – disse – e advoga pela transparência, o desarmamento verificável, o desarmamento nuclear global e irreversível, e por abordar seriamente a questão das armas nucleares estratégicas, as táticas e os meios de desenvolvimento. A Igreja permanece totalmente comprometida nos esforços de ambos para deter a proliferação e avançar em um acordo internacional vinculante, ou um marco de acordos, para eliminar os arsenais existentes sob supervisão de uma efetiva verificação internacional.”
“Visto de um ponto de vista jurídico, legal, político, de segurança e, além de tudo, moral, não há nenhuma justificativa para continuar mantendo armas nucleares”, disse o arcebispo. “Este é o momento de começar a direcionar de maneira sistemática os requisitos para um mundo livre de armas nucleares”.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28571?l=portuguese (Acesso 28/07/2011 às 11h09)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O PROBLEMA DO MAL

Por Dom Murilo Krieger

SALVADOR, terça-feira, 26 de julho de 2011 (ZENIT.org) – “Você acredita em Deus?” Com essa pergunta, a jornalista terminava uma longa entrevista com um conhecido esportista nacional. A resposta que ele lhe deu chamou minha atenção, porque expressa o que muita gente pensa a respeito do problema do mal. O drama e a angústia do esportista são a angústia e o drama de inúmeras pessoas, em situações, épocas e lugares diferentes: “É difícil dizer que acredito em Deus. Quanto mais desgraças vejo na vida, menos acredito em Deus. É uma confusão na minha cabeça; não encontro explicação para o que acontece. Por que é que meu filho nasce em berço de ouro, enquanto outro, infeliz, nasce para sofrer, morrer de doença, e há tudo isso de triste que a gente vê na vida? É uma coisa que não entendo e, como não tenho explicação, é difícil de acreditar em um Ser superior.”
O mal, o sofrimento e a doença fazem parte de nosso cotidiano. As injustiças, a fome e a dor são tão frequentes em nosso mundo que parecem ser normais e obrigatórias. Fôssemos colocar em uma biblioteca todos os livros já escritos para tentar explicar o porquê dessa realidade, ficaríamos surpresos com sua quantidade.
Para o cristão, mais do que um culpado, o mal tem uma causa: a liberdade. Fomos criados livres, com a possibilidade de escolher nossos caminhos. Podemos, pois, fazer tanto o bem quanto o mal. Se não tivéssemos inteligência e vontade, não existiria o mal no mundo; se fossemos meros robôs, também não. Por outro lado, sem liberdade não haveria o bem e nem saberíamos o que é um gesto de amor. Também não conheceríamos o sentido de palavras como gratidão, amizade, solidariedade e lealdade.
O mal nasce do abuso da liberdade ou da falta de amor. Nem sempre ele é feito consciente ou voluntariamente. Quanto sofrimento acontece por imprudência! Poderíamos recordar os motoristas que abusam da velocidade ou que dirigem embriagados, e acabam mutilando e matando pessoas inocentes. Não é da vontade de Deus que isso aconteça. Mas Ele não vai corrigir cada um de nossos erros e descuidos. Não impedirá, por exemplo, que o gás que ficou ligado na casa fechada asfixie o idoso que ali dorme. Repito: Deus não intervém a todo momento para modificar as leis da natureza ou para corrigir os erros humanos.
O que mais nos angustia, talvez pela gravidade das consequências, é o mal causado pela violência, pelo ódio e egoísmo. Os assassinatos e roubos, os sequestros e acidentes, as guerras e destruições são como que pegadas da passagem do homem pelo mundo. O mal acontece porque usamos de forma errada nossa liberdade ou não aceitamos o plano de Deus, expresso nos mandamentos. Quando nos deixamos levar pelo egoísmo e seguimos nossas próprias ideias, construímos o nosso mundo, não o mundo desejado por Deus para nós.
Outro imenso campo de sofrimento é o das injustiças. Quantos se aproveitam de sua posição e de seu poder para se enriquecer sempre mais, à custa da miséria dos fracos e do sofrimento dos indefesos! Terrível poder o nosso: podemos fechar-nos em nosso próprio mundo e contemplar, indiferentes, a desgraça dos outros.
Não se pode, também, esquecer o mal causado pela natureza, quando suas leis não são respeitadas. Com muita propriedade, o povo diz: “Deus perdoa sempre; o homem, nem sempre; a natureza, nunca!” A devastação das florestas e a contaminação das águas fluviais trazem consequências inevitáveis, permanentes e dolorosas para a vida da humanidade. Culpa de Deus?...
Diante do mal, não podemos ter uma atitude de mera resignação. Cristo nos ensina a lutar, combatendo o mal em suas causas. O bom uso da liberdade e a prática do bem nos ajudarão a construir o mundo que o Pai sonhou para nós. Descobriremos, então, que somos muito mais responsáveis por nossos atos do que imaginamos. Fugir dessa responsabilidade, procurando fora de nós a culpa de nossos erros é uma atitude cômoda, ineficiente e incoerente. Assumirmos a própria história, colocando nossas capacidades a serviço dos outros, é uma tarefa exigente, sim, mas que nos dignifica e nos realiza como seres humanos e filhos de Deus.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj, é arcebispo de São Salvador da Bahia


Fonte: http://www.zenit.org/article-28558?l=portuguese (Acesso 26/07/2011 às 20h54)

terça-feira, 26 de julho de 2011

JOVENS “ENRAIZADOS EM CRISTO”

Por Cardeal Odilo Scherer

SÃO PAULO, terça-feira, 26 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Aproxima-se a Jornada Mundial da Juventude da Espanha. A partir de 10 de agosto, jovens de todos os países do mundo chegarão às dioceses espanholas para participar da pré-jornada; serão acolhidos pelos jovens espanhóis e, com eles, compartilharão experiências, a alegria da mesma fé e a pertença à Igreja de Cristo; tudo, numa grande variedade de línguas, culturas e tradições, mas irmanados na mesma Família de Deus.
O Brasil estará bem representado por mais de 13 mil jovens. Boa parte deles desembarcará na Andaluzia, em cidades como Sevilha, Granada e Córdoba. Será uma experiência religiosa cultural única! A história colonial do Brasil está bem ligada também à Espanha.
Depois, a partir de 15 de agosto, centenas de milhares de jovens encherão de vida e alegria a capital, Madrid. Nos dias 17, 18 e 19, haverá catequeses, celebrações, eventos religiosos e culturais e interações entre os jovens, distribuídos em muitos grupos linguísticos. Dia 19, chegará também o papa Bento 16 e será acolhido pelos jovens. Dia 20, sábado, haverá a grande vigília dos jovens com o papa; será bonita e valerá a pena acompanhar pela TV. Dia 21, domingo, a missa com o papa e a conclusão da jornada, com o anúncio do país e da cidade que serão a sede da próxima, em 2013. Esperamos que seja o Brasil!
O tema escolhido pelo papa Bento 16 para a Jornada da Espanha é belo, profundo e muito atual: “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf Cl. 2,7). Vamos refletir sobre este tema, começando pela 1ª parte. O texto é da Carta aos Colossenses e São Paulo exorta os fiéis a não se deixarem abalar na sua fé em Cristo.
O tema aponta para algo central na vida cristã: nossa referência e relação com Cristo. Ser cristão é ser discípulo de Cristo; é estar ligado a ele e dele receber um sentido novo para a vida, mediante a fé e o Batismo. Para São Paulo, isso significa “estar nele”, ser edificados sobre ele, estar enraizados nele. Sem esta referência essencial a Cristo, o cristão perde o rumo e a Igreja, o seu sentido.
“Enraizados em Cristo” – isso nos lembra a parábola do semeador. A semente que caiu em terreno pedregoso brotou logo, a plantinha até começou a crescer, mas logo secou, porque não conseguiu afundar as raízes, a terra era pouca, havia muita pedra. Planta sem raiz seca logo e não produz fruto. Árvore com raiz apenas superficial é arrancada pelo vento...
Vivemos tempos de superficialidade, de consumismo, a cultura do descartável, dos modismos passageiros, das novidades que suplantam as convicções a toda hora. Certezas duradouras estão fora de moda! E isso tende a invadir também o campo religioso e das certezas morais. Nada de novo sob o sol: já São Paulo advertia seu jovem colaborador Timóteo a se manter firme na fé e a não diluir o Evangelho, só para satisfazer ao gosto “daqueles que têm comichão no ouvido” e desviam sua atenção da verdade, para ir atrás de fábulas (cf. 2Tm 4,1-5). Isso vale ainda hoje, quando a verdade é trocada pelos sentimentos, emoções ou satisfações imediatas; ou ainda, quando a verdade, o bem e os valores são medidos pela balança do lucro e das vaidades!
“Enraizados em Cristo”: os cristãos, jovens e não-jovens, são convidados a lançar suas raízes em Cristo, para não serem como plantas arrastadas pelas correntes e tempestades, folhas secas, caniços agitados pelo vento” (cf Mt 11,7). O cristão precisa ter convicções firmes e bem fundamentadas, aprendidas do Evangelho, da fé vivida pela Igreja, do testemunho dos santos, dos mártires. A verdade não é medida por aquilo que todos dizem ou fazem: Jesus Cristo é, para nós e para o mundo, “caminho, a verdade e a vida”.
Publicado em O SÃO PAULO, edição de 26/7/2011
Cardeal Odilo Pedro Scherer é arcebispo de São Paulo

Fonte: http://www.zenit.org/article-28561?l=portuguese (Acesso 26/07/2011 às 20h48)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OS FILHOS, MOTOR DA RECUPERAÇÃO ECONÔMICA

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 22 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Reproduzimos artigo de L’Osservatore Romano, escrito por Ettore Gotti Tedeschi, presidente do Instituto para as Obras de Religião, informalmente conhecido como “o banco do Vaticano”. Tedeschi apresenta uma estratégia econômica “para os países mais velhos”.

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Observando a população dos países ocidentais, em particular nos países “maduros” como os Estados Unidos e os que formam a Europa dos 20, percebemos que a porcentagem da população com idade acima de sessenta anos aumenta sensivelmente. As pessoas dessa faixa etária representam hoje cerca de um quarto do total, quando nos países emergentes não chegam a um décimo. E já notamos que os custos desta tendência não são sustentáveis.
O envelhecimento da população pode ser considerado como a verdadeira origem da crise econômica atual. E no próximo decênio os seus efeitos correm o risco de não ser mais suportáveis, porque a porcentagem cada vez maior de pessoas que saem da fase produtiva se transformará num custo fixo impossível de ser absorvido e sustentado por quem produz. Além disso, cada vez menos pessoas entram no ciclo produtivo, e muito lentamente. Sem considerar as mudanças do conceito de ocupação que tínhamos até há pouco tempo.
Os custos de uma população cada vez mais velha não poderão ser sustentados pelos jovens, que, além de serem cada vez menos, poderiam também se perguntar por que deveriam fazê-lo, em especial se são imigrantes.
Menos observado, outro fenômeno relativo ao envelhecimento da população está na mudança da estrutura do consumo. Sintetizando um pouco cruelmente: compram-se menos carros e mais remédios. Está mudando, e mudará cada vez mais, também o ciclo de produção de poupança, hoje em diminuição e destinado a ruir: primeiro porque as economias familiares tiveram que sustentar o consumo; segundo, por causa da drástica redução de ganhos.
Diante desta realidade, é indispensável termos a valentia de encarar a questão dos nascimentos e do envelhecimento da população. É inadiável planejarmos estratégias para sustentar as famílias na sua vocação natural a ter filhos. Só assim poderá começar uma verdadeira recuperação econômica. Uma família europeia de hoje, com dois salários, ganha menos do que há trinta anos com só um salário. Esta é a consequência do crescimento dos impostos sobre o produto interno bruto, que duplicaram no mesmo período para absorver justamente as consequências do envelhecimento diante da queda nos nascimentos.
Os governantes dos países “maduros” precisam investir na família e nos filhos para gerar um rápido crescimento econômico, graças à ativação de fatores como o aumento da demanda, a poupança e os investimentos. Assim os idosos seriam mais aceitos, e não apenas suportados, como às vezes ocorre hoje. No fundo, a própria natureza ensina que, se o homem e a mulher não geram filhos, é difícil alguém cuidar deles quando envelhecerem. O Estado pode tentar. Mas com custos altíssimos.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28533?l=portuguese (Acesso 25/07/2011 às 14h52)

sábado, 23 de julho de 2011

LITURGIA DA PALAVRA: À PROCURA DO TESOURO ESCONDIDO E DA PÉROLA PRECIOSA

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração


SÃO PAULO, quinta-feira, 21 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à Liturgia da Palavra do 17º domingo do Tempo Comum – 1 Rs 3,5.7-12; Rm 8, 28 -30; Mt 13, 44 -52 –, redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT. 
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DOMINGO XVII COMUM
À procura do tesouro escondido e da pérola preciosa
Leituras: 1 Rs 3,5.7-12; Rm 8, 28 -30; Mt 13, 44 -52
“Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8, 28 – Segunda leitura).
De onde vem ao apóstolo tamanha certeza confiante, diante das provações e contrariedades que têm acompanhado seu caminho e que acompanham o caminho de todo discípulo que escolhe seguir Jesus sem compromissos? 
A resposta vem do próprio Jesus: “Eu te louvo, ó Pai Santo, Deus dos céus e da terra: os mistérios do teu reino aos pequeninos, Pai, revelas!” (Aclamação ao evangelho. Cf. Mt 11,25).
É propriamente a sabedoria que vem do Pai, a dar aos discípulos que se abrem a Deus e ao ensino de Jesus com simplicidade de coração e fé, conhecer o verdadeiro sentido da vida em correspondência ao projeto do amor de Deus. Os pequeninos são introduzidos no mistério do reino de Deus, que atua na história e na vida deles, e conseguem afinar-se, como um instrumento musical, ao seu ritmo e ao seu projeto. Eles “sabem”, com a intuição da fé, que o Pai tem cuidadosa cura até dos pássaros do céu e das flores do campo (cf. Mt 6, 28), e se entregam com confiança a ele, como a criança em braço de sua mãe (Sl 131). 
O apóstolo ainda acrescenta: “Depois disso, que nos resta dizer? Se Deus está conosco, quem estará contra nós?... Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada?... Mas em tudo isto somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8, 31.35.37). No pano de fundo destas palavras é fácil ler a experiência pessoal de Paulo, assim como a de inúmeros cristãos e cristãs que, ao longo da história do povo de Deus, chegaram a cumprir com grande criatividade obras maravilhosas de caridade, de cultura e de desenvolvimento social, muitas vezes sem recursos humanos relevantes, porém com a forca do amor. Às vezes até mesmo com o dom da própria vida, em testemunho inabalável da fé. 
Uma testemunha excepcional do nosso tempo, Etty Hillesum, uma jovem judia morta no campo de concentração de Auchwitz durante a Segunda Guerra Mundial (1943), escreve no seu diário, encontrado depois da sua morte: “Eu acredito que da vida se possa levar sempre algo de positivo em qualquer circunstância; temos, porém, o direito de afirmá-lo, somente se pessoalmente não fugimos das circunstâncias piores” (Diário). E ainda: “Não são os acontecimentos a contar na vida... mas o que nos tornamos graças aos acontecimentos” (Idem).
E nós não pertencemos por acaso à mesma família de Deus, circundados do mesmo cuidado do Pai e acompanhados por tantas testemunhas que, confiando na fidelidade dele, largaram tudo para ganhar o tesouro escondido no campo e a pérola preciosa? Jesus nos convida a entrar no mesmo caminho e a nos empenharmos, guiados pela sabedoria do Espírito, na busca do tesouro da vida plena, deixando de lado tudo o que pode nos impedir de alcançar a meta e investindo todas as nossas energias na sua aquisição. 
O reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” (Mt 13, 44). Somente quem tem a sabedoria do Espírito consegue reconhecer no campo indistinto das situações da vida, o tesouro escondido do dom de Deus, da sua proposta e do seu chamado para uma vida diferente. Daí sua decisão de “vender tudo”, abandonar o que todo mundo acha importante para o sucesso da vida, para “comprar o campo”, seguir o chamado interior, alegre mesmo correndo o risco do investimento. 
“Jesus dizia a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a salvará” (Lc 9, 23-24).
Assim nasce e se desenvolve toda autêntica vocação do seguimento a Cristo e de toda escolha de configurar a ele a própria vida, partindo da íntima experiência do encontro com ele mesmo. Para aqueles que não têm esta luz/sabedoria do Espírito e não experimentaram o encontro com Cristo ao centro da própria vida, a busca apaixonada pelo tesouro escondido e a pérola mais preciosa do que as outras, parecem incompreensíveis. “O reino dos céus também é como um comprador de pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.... Compreendestes tudo isso? Eles responderam: ‘Sim’.” (Mt 13, 45-46; 51 ). 
Quem se coloca na escola de Jesus, o mestre que sabe valorizar os tesouros da tradição dos padres, conferindo-lhes uma nova atualidade, se torna ele mesmo mestre de sabedoria e de vida (cf Mt 13, 52). O discípulo de Jesus se torna mestre para os outros na medida em que permanece e vive como verdadeiro discípulo de Jesus, o único Mestre (cf Mt 23,8).
Às vezes, a procura do tesouro escondido e da pérola preciosa se torna motivo de escárnio e de contraste. Jesus nos alerta: “Não penseis que vim trazer paz, mas espada.” (cf Mt 10,34-35). Mais ainda nos desafia: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a tração e o caruncho corroem e os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu.... pois onde está teu tesouro, ali está teu coração” (Mt 6,19-20).”
Este é o tesouro precioso que Salomão, consciente da sua falta de experiência (“eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar”), pede ao Senhor, e que o Senhor lhe concede com generosidade divina: “Dai ao teu servo um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir o bem e o mal... Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas... mas sim, sabedoria... dou-te um coração sábio e inteligente”  (1 Rs 3,4; 11-12). 
A relação vital com a palavra do Senhor, para aqueles que se abrem a ela, se torna a verdadeira riqueza da vida e fonte da autêntica sabedoria e alegria: “A lei da vossa boca, para mim, vale mais do que milhões em ouro e prata... Maravilhosos são os vossos testemunhos, eis porque meu coração os observa! Vossa palavra, ao revelar-se ilumina, e ela dá sabedoria aos pequeninos” ( Salmo Responsorial 118). 
Eis uma vida unificada e potenciada a partir da relação com o Senhor. A experiência de cada dia, pelo contrário, nos encontra muitas vezes em tensão entre a multiplicidade de sentimentos, desejos, medos, especialmente no que diz respeito a nós mesmos, aos outros, a Deus. Por outro lado, há sempre a exigência de nos encontrarmos, encontrarmos o nosso centro.
A rápida sucessão de impulsos, sentimentos, desejos, frustrações nos atravessam, até nos percebermos quase que esvaziados, roubados, desnorteados e exilados de nós mesmos.
Percebemos a necessidade de reencontrar a camada profunda das águas vivas, camada esta que irriga a vida e nos faz sentir em nossa casa. Precisamos aprender a lidar com as solicitações sem número que vêm do exterior (TV – Rádio – conversas, etc.), mas também com o fluxo das emoções e pensamentos, que todo dia nos impelem a ficar fora de nós mesmos. Isso se faz necessário para recuperarmos a capacidade de “habitar conosco”. 
“Conhece a ti mesmo!”, dizia um antigo filósofo, profundo conhecedor da tendência ilusória humana de procurar fora de si mesmos as razões dos próprios conflitos, assim como a nascente da própria felicidade. 
A partir desta experiência de fragmentação e desta inata exigência de unidade interior, é possível iniciar um autêntico processo de unificação do coração, centrado sobre o tesouro escondido no campo da vida. A inquietação que acompanha sua busca é graça. Impele-nos a discernir e a escolher entre os peixes bons e os peixes que não prestam, e que se encontram misturados na rede da vida (cf Mt 13, 47-48). 
São Romualdo [1], homem iluminado pela sabedoria de Deus, tendo diante de si a parábola da rede cheia de todo tipo de peixe, indicava aos discípulos o caminho para voltar ao centro de si mesmos e ali encontrar a nascente profunda da vida: “Fica sentado na tua cela, como no paraíso. Expele da tua memória o mundo inteiro e joga-o atrás de ti. Fica vigilante e atento aos bons pensamentos, como um bom pescador aos peixes. Única via, para ti, encontra-se nos salmos. Não deixá-la mais” (Pequena regra de ouro, em Bruno Bonifácio, Vida dos cinco Irmãos, c.19)
Ler um livro, refletir sobre nós mesmos e sobre os eventos, além das emoções e das aparências imediatas, meditar a Palavra de Deus, é caminho de sabedoria, é caminho de oração, é caminho para aprender a “governar a vida”, segundo a sábia oração de Salomão. É caminho para reconhecer que de verdade, “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8, 28).
A partir do processo de unificação interior na sua relação com o Senhor, - que constitui o centro do evangelho e da espiritualidade cristã - se amplia e se aprofunda a visão da realidade, e se constroem sobre a rocha as escolhas fundamentais da vida. Constatamos o quanto seja difícil manter o leme do barco na direção deste horizonte unificante. E precisamos nos perguntar repetidamente: “Onde estou?”, “Para onde estou dirigindo-me?”.
Caminhar rumo uma vida sempre mais unificada no Senhor, e dele aprender a tudo abraçar com amor e liberdade, é cumprir com Cristo a passagem da páscoa, é a meta do projeto de Deus que fazer encontrar novamente a todas as coisas o próprio centro unificador em Cristo.  
Um certo desnível entre a perspectiva e a meta marca com certeza o caminho do discípulo. É a nossa cruz e a nossa salvação! Antes de tornar-se razão para desanimar, se traduz em tomada de consciência da nossa condição de peregrinos rumo à plenitude da páscoa eterna, que coincide com a harmonia original: “Ainda peregrinos neste mundo, não só recebemos, todos os dias, as provas de vosso amor de pai, mas também possuímos, já agora, a garantia da vida. Possuindo as primícias do Espírito... esperamos gozar, um dia, a plenitude da páscoa eterna.”(Prefácio dos domingos, VI. Seu uso resulta bem apropriado na missa de hoje).
Desta consciência de povo peregrino, brota a invocação confiante da Igreja: “Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo. Redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam” (Oração do Dia).
Notas: 
1. São Romualdo (+ 1027) é o pai espiritual dos monges beneditinos camaldolenses. No ano 1012 ele fundou o Sacro Eremitério de Camáldoli, que se tornou a Casa mãe da Congregação Beneditina que deste lugar assumiu o nome de “Camaldolense”. No ano próximo os monges camaldolenses celebrarão o milênio da fundação de Camáldoli, onde a comunidade monástica vive  sem interrupção até o presente. Para um contato com o ensino espiritual de Romualdo e da tradição camaldolense, se pode consultar: A. Barban – J.Wong (ed); Como água da fonte. A espiritualidade beneditina camaldolense entre memória e profecia; Ed. Loyola, São Paulo 2009

Fonte: http://www.zenit.org/article-28523?l=portuguese (Acesso 23/07/2011 às 00h35)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

IGREJA DEVE APRENDER LINGUAGEM DOS JOVENS

Dom Fisichella afirma que liberdade e ciência são dois valores dominantes


MADRI, quinta-feira, 21 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Para evangelizar os jovens, a Igreja precisa compreender sua cultura, na qual a liberdade e a ciência são valores dominantes, considera o arcebispo Rino Fisichella.
Segundo o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, não se pode falar de Cristo aos jovens “sem falar da liberdade, pois o jovem de hoje a colocou em sua cultura, mas a liberdade tem de estar sempre em relação com a verdade, pois é a Verdade que produz a liberdade”.
Ao mesmo tempo, acrescenta, “não se pode falar de Deus aos jovens sem conhecer a cultura dos jovens de hoje, que é a científica. A cultura de hoje, seu conteúdo, está repleto de axiomas de ciência”.
O prelado italiano compartilhou sua análise da evangelização dos jovens ao participar, em 20 de julho, do curso de verão “Os jovens e a Igreja Católica”, organizado pela Universidade Rei João Carlos.
Esclareceu que a Igreja está “a favor da ciência, mas esta tem de estar a favor da humanidade e nunca contra ela”.
“Chegará o momento em que a própria ciência pedirá ajuda à teologia para conhecer mais amplamente os âmbitos da realidade e poder dar resposta à dor, à traição, à morte”, em definitiva, “às grandes perguntas, as perguntas de sentido”, afirmou Dom Fisichella, em uma conferência intitulada “Os jovens e Deus, os jovens e Jesus Cristo, os jovens e a vida eterna”.
O prelado destacou que “a interação ciência-vida pessoal-ética é necessária, não se pode viver sem ela”.
Como exemplo, Fisichella contou o caso do diretor do Projeto Genoma, Francis S. Collins, que se adentrou na linguagem de Deus, porque “a verdadeira ciência nos coloca às portas do transcendente”.
E concluiu afirmando que “se pode ser católico e cientista ao mesmo tempo. Viver o conhecimento científico não implica em ser ateu. O cientista tem seus limites, não pode afirmar a não-existência de Deus”.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28528?l=portuguese (Acesso 22/07/2011 às 11h05)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

FICÇÃO E VIDA COTIDIANA EM DESTAQUE NO MUTICOM

Mutirão Brasileiro de Comunicação prossegue no Rio de Janeiro


RIO DE JANEIRO, quarta-feira, 20 de julho de 2011 (ZENIT.org) – A manhã dessa terça-feira no Muticom – Mutirão Brasileiro de Comunicação, que acontece no Rio de Janeiro – foi dedicada à reflexão sobre a vida captada e narrada pelos meios de comunicação, no contexto da conferência “Documentário, ficção e vida cotidiana”.
O crítico de cinema e professor de comunicação da PUC-Rio Miguel Pereira, o jornalista da Rede Globo de Televisão Marcelo Canellas, a professora da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) Moira Toledo, e o Comandante Geral das Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro (UPPs), Coronel Robson Rodrigues da Silva, formaram a mesa, que foi moderada pelo coordenador do Centro Loyola de Fé e Cultura, Padre José Fernandes; segundo informa o portal do Muticom.
Marcelo Canellas afirmou que o que realmente importa para o jornalista é a notícia. Ele explicou que jornalismo e ficção pertencem a mundos completamente diferentes, porque são duas formas distintas de realidades objetivas.
“Jornalismo é uma forma específica de conhecimento da realidade objetiva (...) Os fatos não aparecem diante de nós como algo totalizado”, disse.
Canellas afirmou ser impossível a imparcialidade e a neutralidade totais. Ele aposta na objetividade. Nesse caminho, afirmou que é importante o profissional se valer de ferramentas teóricas, para não ser enganado pela realidade.
O jornalista, abordando as dimensões ética e estética da notícia, também destacou a relevância de desenvolver formas criativas de narrativa, especialmente quando se fala de linguagem para a televisão, porque a notícia envelhece muito rapidamente e é incessantemente copiada.
Ele ainda deixou sua crítica à prática cada vez mais comum de que as matérias sejam redigidas apenas na redação, sem que o repórter saia à rua. “O repórter precisa estar diante do fato”, disse. “O papel do jornalismo é jogar luz sobre o que está obscurecido na sociedade”, destacou.
Para Moila Toledo, que deixou de atuar na produção cinematográfica para desenvolver um trabalho nas periferias por meio da educação audiovisual popular, jogar luz sobre as realidades que não são vistas também faz parte da sua missão ao comunicar. “Isso é o que eu posso fazer para mudar o mundo”, afirmou.
A professora lembrou a importância do terceiro setor e abordou a necessidade da criação de políticas públicas para que projetos semelhantes ao das oficinas audiovisuais passem a acontecer de forma mais eficaz.
“Você encontra jovens que precisam falar de si mesmos. E se você tiver um pouquinho de olhar antropológico, a ficção fala da vida do cara: é um documentário”, disse.
Para o Coronel Robson, nesse ambiente social permeado pelo real e o fictício, a presença de policias, por meio das UPPs nas várias comunidades do Rio de Janeiro, também tem um papel importante para ajudar a promover a inclusão social. “A UPP é uma forma policial cidadã de tentar diminuir uma desigualdade”, afirmou.
Já o crítico de cinema Miguel Pereira, em sua abordagem sobre ficção, fez questão de enfatizar a missão do comunicador cristão, neste cenário do real em que todos são sujeitos da narração o tempo inteiro.
“Nós somos comunicadores da mensagem católica. Temos que entender o outro, comunicar para fora, porque o nosso papel é de sal da terra, de luz do mundo. Cada ação nossa tem repercussão no mundo e repercussão no outro. Isso é fundamental para pensar o processo de comunicação.”
“A nossa atitude correta tem que ser a de aprendizes eternos. Essa reelaboração do mundo precisa ser feita com a nossa mensagem, que não deve ser só falada. Nós somos sujeitos da narração o tempo inteiro, o corpo, a fala, tudo nos narra. É importante que nós ficcionalizemos, sim, e que a nossa vida seja uma poesia, seja um encantamento”, disse.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28516?l=portuguese (Acesso 20/07/2011 às 21h19)

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Mario Bross