Apresentação MEJ Brasil - 1º Congresso Mundial do MEJ - 2012

Hino do Congresso Internacional do MEJ 2012 Argentina - Escute aqui!

domingo, 31 de outubro de 2010

A voz do nosso pároco

31º. Domingo do Tempo Comum – Ano C – 31 de outubro de 2010
Textos: Sb 11,22-12,2; Salmo 144; 2Ts 1,11-2,2; Lc 19, 1-10


Povo de Deus em Vila Guilhermina:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


A primeira leitura é do livro da Sabedoria. Esse livro bíblico foi escrito pela comunidade dos judeus que viviam na cidade de Alexandria, no Egito. Fundada por Alexandre Magno, que teve como orientador e professor nas letras e na espiritualidade, o grande Aristóteles. Alexandria tornou-se cosmopolita do ponto de vista econômico, mas, sobretudo, do ponto de vista educacional. Alexandre Magno, conquistador e general da Macedônia, atual Iugoslávia, talvez fora um dos grandes homens da História da humanidade que mais investiu, de modo completamente imparcial, na educação de base. Um homem bruto, mas que percebeu logo cedo a importância da educação nos primeiros anos de vida do ser humano e a sabedoria em lidar com as diferentes culturas. Ele construiu a famosa «Biblioteca de Alexandria». Na antiguidade essa cidade foi considerada a mais importante do mundo. Alexandria está no norte da África, perto da Faixa de Gaza, é a segunda cidade mais importante do Egito, depois da capital, Cairo. É uma cidade que fora construída à beira do Mar Mediterrâneo; os olhos da cidade voltados para a Grécia e a Europa. Por 300 anos a cidade de Alexandria fora considerada a cidade mais avançada e a mais moderna, do ponto de vista arquitetônico e científico, de todo o lado oriental do mundo. Alexandre Magno fez um esforço brutal: sintetizar as culturas do Ocidente e do Oriente. E a via para essa síntese era para ele a «educação»; mas, também o «conhecimento» que para ele se adquiria quando o ser humano era capaz de entender racionalmente e apreender o método, ou seja, o modo como compreender a realidade da vida.

A comunidade judaica diante do que havia de mais moderno do ponto de vista da ciência e da tecnologia enxergava que a verdadeira grandeza estava em Deus. «Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra» (v. 22). Diante do que havia de belo, mais próspero, mais maravilhoso, o Povo de Deus se reunia para rezar para exaltar a grandeza e a sabedoria de Deus. E a grandeza e a sabedoria de Deus estavam naquilo que mais valioso existia: a vida humana. Na vida está a onipotência e o amor de Deus. Deus ama a vida. Deus é defensor natural da vida (cf. v. 26). «Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado» (v. 24). É com o olhar de uma fé esclarecida e consciente que a comunidade olha para o passado e consegue ver a presença de Deus. Uma presença, segundo o livro da Sabedoria, «incorruptível» (12,1). Paulo dirá: «Não cessamos de rezar por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação. Que ele, por seu poder, realize todo o bem que desejais e torne ativa a vossa fé» (v. 11).

Na segunda leitura, Paulo escreve aos Tessalonicenses, em segunda epístola, para comunicar à comunidade cristã os perigos que se corre quando confundimos a liberdade com a libertinagem. Nós confundimos liberdade com libertinagem quando nos iludimos com as variáveis versões da realidade. Para Paulo, o mundo e a realidade não são uma ilusão. As cartas de Paulo no Novo Testamento possuem grande conteúdo educacional. «Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós» (Rm 8, 18). Sofrimentos, diz Paulo, que vivemos por causa da vaidade e da dependência da vaidade (cf. Rm 8, 20). Os sofrimentos do tempo presente comparava Paulo como o gemido da mulher em dores de parto (cf. Rm 8, 22). Paulo dizia que nós devemos ser «imitadores de Deus» (cf. Ef 5,1), assim como o Salmista que abre o livro dos Salmos dizendo: «Feliz aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; que não anda no caminho dos malvados, nem junto aos zombadores vai sentar-se» (Sl 1, 1).

Parece que vivemos em tempos semelhantes. Confundimos liberdade com libertinagem porque estamos mergulhados numa versão ilusória da realidade, uma espécie de cegueira (cf. Lc 18,35-43). Uma ilusão, organizada em sistemas, que devasta e deforma o campo da ciência, da economia, da política e até a religião.

O Evangelho de Lucas narra o que se chama a «conversão de Zaqueu». A conversão de Zaqueu acontece depois que Jesus cura um cego. No caminho para Jerusalém Lucas recorda-nos o amor de Jesus pelos pobres e pelos pecadores. Mas, algo novo acontece no caminho; algo que chegou a surpreender o próprio Jesus que antes afirmava categoricamente: «Como é difícil para os que possuem riquezas entrar no Reino de Deus» (Lc 18, 24). Zaqueu é o exemplo de que Deus pode realizar o impossível, como ensinou Jesus. «O que é impossível aos homens é possível a Deus» (Lc 18, 27). Zaqueu enriquecera roubando. Era chefe dos cobradores de impostos (cf. v. 2). Em Jericó chega a notícia que Jesus iria passar pela cidade. A notícia aguça a curiosidade de Zaqueu. Ele «procurava ver quem era Jesus» (v. 3). Mas, como um ladrão, que tem consciência de sua condição, pode querer ver Jesus? Para Zaqueu só havia um jeito. Tinha que fingir-se de religioso, de honesto, de seguidor da Lei. Por isso, Lucas mostra toda a preparação e o esforço que Zaqueu faz. Ele sobe numa figueira; uma árvore que na mitologia judaica e antiga simbolizava a religião. A cena é interessante porque Zaqueu se sente no alto: é rico, tem dinheiro, está por cima e além do mais é religioso. Lucas coloca de propósito Zaqueu acima de Jesus. «Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: Zaqueu desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa» (v. 5). Jesus está sempre nos puxando para a realidade e nos tirando do mundo das ilusões. «Ele desceu depressa e recebeu Jesus com alegria» (v. 6). A conversão dele começa aí. Sai do mundo das ilusões e se coloca no mesmo nível da humanidade que ele enxerga, de maneira extraordinária, em Jesus. Zaqueu se coloca aos pés de Jesus. «Zaqueu ficou de pé» (v. 8-a). Depois vêm as críticas dos que andavam com Jesus. «Ele foi hospedar-se na casa de um pecador» (v. 7). Não é Zaqueu que convida Jesus; Jesus se autoconvida para ir à sua casa. Zaqueu confirma para Jesus o que os seus seguidores falavam dele. «Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais!» (v. 8-b). A declaração final de Jesus é uma beleza; a notícia que Jesus dá a Zaqueu é essa: «Hoje a salvação entrou nesta casa» (v. 9). O Evangelho não diz se Zaqueu fez o que tinha prometido a Jesus, certamente o fez; mas Lucas conclui com o ensinamento mais importante. «O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido» (v. 10). O mandamento do amor exige total e ativa transformação do mundo.
(Texto: Pe Devair Carlos Poletto - 31/10/2010)

domingo, 24 de outubro de 2010

A voz do nosso pároco

30º. Domingo do Tempo Comum – Ano C – 24 de outubro de 2010
Textos: Eclo 35,15-b-17. 20-22-a; Salmo 33; 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18, 9-14


Meus irmãos e irmãs:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


Hoje a Igreja no Brasil celebra o «Dia Mundial das Missões». A Igreja é o Povo de Deus. Pelo Batismo professamos a fé que, em sua essência, é missionária. Fé e missão: eixos fundamentais para a ação. A missão é ingrediente «ontológico», no «sentido heidggeriano» para a fé cristã e católica. Martin Heidgger, falecido em 1976, foi um grande pensador e professor alemão que escreveu um livro belíssimo: «O Ser e o Tempo», de 1927. Nascido na antiga Suiça Alemã, em 1889, foi educado pelos padres jesuítas. O pai de Heidgeer era sacristão na Paróquia São Martinho. O ponto de partida do pensamento de Heidegger, principal representante alemão da «filosofia existencial», é o problema do sentido do ser. Heidegger aborda a questão tomando como exemplo o ser humano, que se caracteriza precisamente por se interrogar a esse respeito. O homem está especialmente mediado por seu passado: o ser do homem é um «ser que caminha para a morte» e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. Para Heidegger, o homem deve tentar «saltar», fugindo de sua condição cotidiana para atingir seu verdadeiro «eu». A sociedade e o mundo de hoje padecem desse mal: a falta de sentido. O pano de fundo de todos os problemas humanos de hoje é uma carência do pensar, no sentido filosófico; o problema não é Deus (o ser teológico), mas, o homem (o ser filosófico).

Ser católico e cristão é ser missionário. Toda a nossa ação deve ser animada a partir do dom precioso que Deus nos deu: a fé; fé catequeticamente proposta pelo Criador no processo de geração da vida e decisão da família. A fé cristã e católica tem por base a felicidade e a alegria. É a alegria da mãe e do pai pela chegada de um novo ser vivo, de um novo ser humano ao mundo; alegria e felicidade compartilhadas pelo homem e pela mulher, mesmo passando por tantas dificuldades. A fé é um «estado encorpado ressurreto». Defender a vida e favorecer a educação sempre foi uma das preocupações na agenda do Povo de Deus. As crianças inseridas no núcleo familiar, sempre participaram e com uma aguda observação conviviam no seio familiar durante a caminhada no deserto. Na perspectiva das crianças, o deserto era uma aventura, não um perigo real à vida. Na caminhada do deserto, tão bem retratada no livro do Êxodo, livro que é uma espécie de «eixo» para compreender a Palavra de Deus, a presença das crianças no longo acampamento que duraram 40 anos, se faz presente e importante, mas, de forma velada. São as crianças que encontram o «maná» (palavra que deriva do vocabulário infantil hebreu: «man-há» que significa: `mãe dá´) e partilham com o Povo de Deus no deserto. Não é à toa que o Salmista vai sempre se referir ao maná, como sendo o «pão dos anjos» (cf. Sl 78,24). As crianças acabam salvando a família com a descoberta do maná; os adultos acabam enxergando a Providência de Deus e as crianças como instrumento de sua Palavra, seus mensageiros, na linguagem religiosa, seus anjos.

Por isso a missão tem tudo a ver com a partilha e com a solidariedade. O gesto de repartir, partilhar, que percorre transversalmente toda a Palavra de Deus vem da experiência das crianças. Não é por acaso que num dos relatos da multiplicação dos pães aparece uma criança que apresenta a Jesus o pouco que tem: dois pães e dois peixes. O ato de partilhar, como ensinam os Evangelhos, é a vontade de Deus; quem partilha entrega também a sua experiência e vivência existencial. Jesus nos convida a ser seus discípulos e seus missionários. O horizonte da missão é o mundo, a humanidade no seu todo. Nós como comunidade católica e cristã temos uma responsabilidade missionária. Responsabilidade de rezar pelos missionários; responsabilidade de pedir alcançar a graça de ser missionário; responsabilidade em ajudar financeiramente as obras missionárias. Em 2008, a Igreja no Brasil realizou o 2º. Congresso Missionário Nacional, em Aparecida, interior do Estado de S.Paulo. O Congresso teve como inspiração fundamental o documento de Aparecida. A missão aprofunda a mensagem fundamental que é o Evangelho semeado nas diversas realidades da nossa cidade, ou seja, a missão tem esse aspecto de mergulho no espírito do Evangelho; o aspecto prático desse mergulho é o «ir», ou seja, agir para fora dos limites, das fronteiras. Ser missionário é exatamente isso: mergulhar no espírito do Evangelho! A ação pastoral e evangelizadora missionária é um ato de mergulhar no profundo oceano do Espírito.

A primeira leitura é do livro do Eclesiástico, capítulo 35. As origens do livro remontam a um costume da comunidade que, ao reunir-se ouvia a proclamação da Lei e a seguir ouvia uma espécie de relato das pessoas mais velhas da comunidade. O relato apresentado está inserido numa espécie de liturgia e de celebração onde o Povo de Deus – em movimento e reunido nas casas («oikia», do grego, que vai dar origem, séculos mais tarde, ao conceito básico de «paróquia»). O autor quer lembrar o jovem Povo de Deus à necessidade de respeitar a experiência de vida dos mais velhos. Para entender a Palavra de Deus não basta lê-la e receber instrução. Só ler não instrui (cf. «Prólogo» na Versão Grega). É preciso ouvir a experiência de quem viveu. É preciso percorrer um caminho duro: disciplinar-se (cf. Eclo 1-23), depois entender a relação entre a Sabedoria de Deus e a vida humana para compreender o projeto de vida na Criação, para finalmente, adquirir capacidade para rezar (cf. Eclo 51). A sentença inicial vem da experiência. «O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas» (v. 15-b). Portanto, a oração elevada para Deus não deve conter nenhum sinal de falsidade. Os juízes da terra podem ser parciais. A Lei pode ser interpretada segundo os modismos ou circunstâncias. Deus não é um juiz assim. «Ele não é parcial em prejuízo do pobre» (v. 16-a).

A lição da primeira leitura está na ilustração apresentada por Jesus em forma de parábola, no Evangelho. É a parábola do «fariseu e o publicano». Jesus remete a parábola para aqueles «que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros» (v. 9). Essa parábola é uma continuidade da parábola do domingo passado que mostrava a relação entre um juiz injusto e uma viúva (cf. Lc 18, 1-10). Jesus questiona o sistema puro-impuro. O fariseu, considerado puro pela prática da Lei vai ao Templo rezar; o publicano, considerado impuro pelas leis sociais e religiosas também se dirige ao Templo. A questão que Jesus coloca é: a oração de qual deles vai chegar até Deus? Enquanto o fariseu desfia sua lista de qualidades, em forma de oração, para Deus, o publicano não tem qualidades nenhuma para apresentar. «Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda» (v. 11-12), diz o fariseu em seu pensamento.

De outro lado, o publicano reconhece seus pecados e não tem nem ânimo para dizer qualquer coisa. «Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador» (v. 13-c).

Jesus diz que Deus ouviu a oração do publicano e não a do fariseu. A oração que agrada a Deus é fruto do modo como vivemos em relação aos outros.
(Texto: Pe Devair Carlos Poletto - 24/10/2010)

domingo, 17 de outubro de 2010

A voz do nosso pároco

A importância da oração, da firmeza na fé e fidelidade a Deus e na missão são destaques na reflexão deste domingo! Reflitam com o coração e com inteligência!

Uma semana abençoada à todos!
Rosangela.


29º Domingo do Tempo Comum – Ano C – 17 de outubro de 2010
Textos: Ex 17, 8-13; Salmo 120; 2Tm 3,14-4,2; Lc 18, 1-8


Irmãos e irmãs:

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!
A Eucaristia é a oração de agradecimento sacramentada; a Eucaristia é, em seu conjunto, um verdadeiro ato de agradecimento a Deus. Em Jesus Cristo, que instituiu o sacramento da Eucaristia, numa quinta-feira Santa, o gesto de rezar passou por significativas transformações. O homem não apresenta mais para Deus só os seus pedidos ele apresenta as suas fraquezas; quando as apresenta, em forma eucarística, as apresenta por Cristo, com Cristo e em Cristo. A Eucaristia é o diálogo mais pleno; diálogo envolto na luz e na força da vitória da vida contra a morte, a Ressurreição, entre Deus e os homens. «Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor, que fez o céu e fez a terra» (Salmo 120,1).

A primeira leitura é do livro do Êxodo. O Livro do Êxodo é importantíssimo para se compreender todo o Antigo Testamento, pois apresenta um momento sofrido e duro da caminhada da humanidade. O capítulo 17 está inserido no conjunto das narrativas da caminhada do Povo de Deus no deserto. Deus tudo nos dá para continuarmos nossa marcha na vida. O deserto bíblico é uma alegoria da caminhada do homem no mundo. A grande lição que aprendemos é a de que Ele sustenta a nossa caminhada e Ele garante a força e a vitória do Povo de Deus.

Deserto do Atacama, Chile. 33 mineiros devotos de Nossa Senhora da Esperança passam quase 70 dias soterrados a 700 metros de profundidade em plena escuridão. Pelas leis da ciência e da natureza não há a menor possibilidade de sobreviver. Incríveis mutações no corpo e na mente ocorrem. Quase no final do dia de Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro, mais de 4 bilhões de pessoas no mundo, assistem pela TV ao vivo a um verdadeiro milagre. Audiência maior que a final da Copa do Mundo ou da posse do presidente americano. Das profundezas da terra ressurge os corpos dos trabalhadores chilenos. E todos declaram agradecimento a Deus e ressaltam a força da oração naquele momento difícil. É possível o homem sair do fundo do poço. Deus nos dá essa capacidade natural. Deus nos dá a capacidade de unir inteligência e determinação para salvar a vida humana. Os chilenos nos apresentam essa lição. «Nossa Senhora me dê a mão, cuida do meu coração, da minha vida, do meu destino!».

Os amalecitas eram um povo gerado da descendência de Esaú (cf. Gn 36,12; 1Cr 1,36). Esaú depois de tentar matar e perseguir Jacó por ter recebido a benção de Isaac, a partir das artimanhas da mãe Rebeca, desvia-se do caminho de Deus. Afasta-se da família, muda de religião e jura vingar-se. Mas, a origem de tudo isso está na história de um «prato de lentilhas». Um dia Esaú chegou cansado do trabalho e em casa; Jacó tinha preparado uma sopa de lentilhas. Por brincadeira pediu ao irmão que, em troca de um prato de lentilhas, Esaú daria o seu direito da primogenitura a Jacó. Cansado da insistência do irmão, Esaú aceita e barganha. Agindo assim ele demonstrou para Deus que desprezava as tradições da família e as leis da religião. Mas, o que Esaú não sabia era que Deus estava vendo tudo e não só Deus, mas a mãe Rebeca assistia a tudo. Por isso, ela se empenha em enganar o marido já de idade avançada e cego para que na hora da morte abençoasse Jacó ao invés de Esaú. O nome de Esaú passou a ser sinônimo de vergonha e chacota para todos. Por isso, Deus mudou o nome de Esaú para «Edom» (que significa «ervilha»). Séculos mais tarde nos tempos de Moisés, o Povo de Deus, descendentes de Jacó ou Israel, se deparam novamente com o lendário episódio dos irmãos que se tornaram inimigos um do outro e causaram a divisão no seio da família. «Os amalecitas vieram atacar Israel em Rafidim» (v. 8). Amalec, neto de Esaú, jurou vingar o avô e destruir o povo de Israel. Era o que faltava. Não bastasse as dificuldades do deserto ainda aparece os antigos inimigos para atrapalharem a caminhada do Povo de Deus. O texto bíblico apresenta a vitória de Israel. Mas, o eixo de entendimento do texto é o de que a vitória de Israel não está mais em «se vender» ou barganhar qualquer coisa com o inimigo. Não se obtém uma vitória verdadeira na base do truque, do estelionato. Através da oração e da luta o Povo de Deus pode vencer qualquer obstáculo. «Moisés disse a Josué: escolhe alguns homens e vai combater contra os amalecitas. Amanhã estarei, de pé, no alto da colina, com a vara de Deus na mão. E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. (v. 9.11).

O cristão consciente da companhia de Deus em seu caminho pratica a justiça e a fraternidade; não pode desanimar, mas sim insistir na oração, pedindo forças para perseverar na fé e na caminhada. Só a oração mantém e fortalece a nossa esperança.

Andamos nesse mundo debaixo das mãos de Deus. Pela oração sabemos que Deus está conosco. Isso nos deve bastar para continuar sem desanimar. O importante é a perseverança, a força. Moisés teve experiência. «Enquanto Moisés conservava a mão levantada» (v. 11-a).

O Evangelho de Lucas (18,1-8) aborda alguns temas ligados à primeira leitura. O próprio Jesus revela para que aprendamos da experiência passada. Conta a parábola da «viúva e do juiz». A figura da viúva representa o Povo de Deus pobre e excluído; a figura do juiz representa os poderosos, aqueles que têm força e poder para decidir. Veladamente faz uma referência à figura de Esaú: era o irmão mais forte, o mais bonito, viril, macho até debaixo d´água. Na parábola, o juiz age como Esaú: cansado do aborrecimento causado pelo irmão, cede e concede o seu direito. «Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!» (v. 4-5). A parábola tem um final feliz.

Jesus propôs esta parábola para convidar os seus discípulos a não sentirem desanimo na caminhada e não desistirem de seus objetivos de construir um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino definitivo. Para Jesus a oração deve ser constante. «Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’» (v. 3).

Em meio a tanto sofrimento o verdadeiro discípulo de Jesus não se cansa; entra num diálogo com Deus, chamado por Jesus de «Pai». O diálogo se resume no pedido do Pai-Nosso: «Venha a nós o vosso Reino». Mergulhados que estamos numa espécie de «noite escura» do mundo, diante de tantas injustiças estruturais, do cinismo da política não desanimamos. Deus está conosco; Ele é onipotente e onipresente. O poder de Deus nos dá a vida para que possamos transformar a conduta dos seres humanos e da sociedade. É essa vida, da qual fazemos pouco caso, que reside o poder de Deus. «E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa» (v. 7-8). A pergunta final é para pensar. «Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?» (v. 8-b). A pergunta de Jesus quer nos revelar que precisamos enxergar a realidade; no meio do povo há aqueles que perdem a fé, se desviam da religião, do meio da família e podem, através da sua influência e do poder, desviar o restante. A Palavra de Deus que é «viva e eficaz, em suas ações» (cf. Hb 4,12) penetre em nossos sentimentos e inteligência.
(Texto: Pe Devair Carlos Poletto - 17/10/2010)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Nossa Senhora Aparecida - Padroeira do Brasil

Ano C – 12 de outubro de 2010
Textos próprios

Irmãos e irmãs: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


«O Verbo se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14). Os Evangelhos narram o caminho realizado por Jesus na perspectiva de sua humanidade e divindade. A Boa-Noticia é o fato de que, em Cristo, não há mais uma separação entre humano e divino. «Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus» (Mc 1,1) dá inicio o Evangelho de Marcos. É, pois a Encarnação e seu mistério, a realização da vontade de Deus, o Pai, que oferece ao homem a salvação ou a condenação. « Jesus é verdadeiramente a realidade nova que supera tudo quanto a humanidade pudesse esperar, e tal permanecerá para sempre ao longo das épocas sucessivas da história. Deste modo, a encarnação do Filho de Deus e a salvação que realizou com a sua morte e ressurreição são o verdadeiro critério para avaliar a realidade temporal e qualquer projeto que procure tornar a vida do homem cada vez mais humana» (VER: João Paulo II. «Incarnationis Mysterium», n. 1).

Se a desobediência, o pecado original, causou um corte e uma separação do homem em sua divindade, como narra o livro dos inícios dos tempos, em Jesus Cristo a realidade antiga, anterior ao pecado, se refez de maneira conflituosa, mas, de certa forma bela e majestosa. Daí entendemos as palavras litúrgicas de Paulo em sua carta aos Efésios. «Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, do alto dos Céus, nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que n'Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos. Predestinou-nos para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, por sua livre vontade. (...) [Deu-nos] a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o beneplácito que n'Ele de antemão estabelecera, para ser realizado ao completarem-se os tempos: reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas que há no céu e na terra » (Ef 1, 3-5.9-10)».

Agradeçamos e louvemos ao Pai por nos ter dado Maria, a Mãe santíssima de Jesus e, por consequência a «Mãe de Deus». No «sim» de Maria, Jesus Cristo nos alimenta com a sua vida, seu Evangelho no augusto sacramento da Eucaristia. Podíamos dizer que ao celebrar o Dia de Nossa Senhora Aparecida não só reconhecemos o seu papel importantíssimo para a salvação do homem, mas de certa forma nos sentimos acolhidos novamente pelo Deus da Criação. Sentimos o calor do abraço amoroso do Pai que, presente na Igreja, aguarda sempre a nossa chegada (cf. Lc 15, 1-32). Quando saímos de casa e vamos participar da paróquia, a «casa e a escola da comunhão» aceitamos o convite misericordioso do Pai que nos chama a celebrar. «Mas, é preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado» (cf. Lc 15, 32). Não ter respeito e nem fé na Mãe de Jesus é agir numa humanidade condenável, a humanidade de Caim, o fruto assassino da desobediência de seus pais; aquele que chuta, zomba e destrói a beleza da Criação de Deus.

A Bíblia destaca o papel de algumas mulheres; ora pelo heroísmo, ora pela firmeza na fé. Mas, toda Bíblia ao falar das mulheres de certa forma as apresenta como pessoas que, mesmo debaixo de leis sociais e religiosas opressoras, não se omitem em agir e transformar a realidade. Ao proclamar o livro de Ester, na primeira leitura, a Igreja quer o nosso reconhecimento às mulheres. Mas, a Igreja deseja que nossa inteligência não somente olhe para a história passada, mas que nossos olhos sejam capazes de contemplar a beleza da Mãe de Jesus no tempo de «Hoje» e também na Igreja.

«Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida», canta o povo amado de Jesus, o Povo de Deus. Nessas palavras simples e humildes, o povo sofrido nos dá um ensinamento de grande profundidade teológica, um «grito da alma, uma saudação, uma invocação de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo a verdadeira Mãe de Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida para ser a nossa Mãe» (VER: João Paulo II. «Homilia na Dedicação da Basílica Nacional de Aparecida», 1980). É assim que João em seu Apocalipse, na segunda leitura, apresenta a Mãe de Jesus como um espelho da Igreja. A Igreja como Maria também sofreu, em seu trajeto histórico, perseguições de governos, de partidos políticos. Todos recordam que Maria, tendo Jesus ainda em seus braços, aquele frágil bebê, sofreu o desterro para salvar a vida do Menino. João dirá: «O dragão começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o Menino» (v. 13-a). Mas, o Povo de Deus, nós que vivemos nesse mundo jamais abandonaremos a Mãe de Jesus. «A terra, porém, veio em socorro da mulher» (v. 15).

A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Como ouvimos no Evangelho, ela nos orienta para Jesus: «Fazei tudo o que ele vos disser» (v. 5). E é ela que numa festa de casamento, em Caná da Galiléia, encaminha a Jesus as dificuldades dos homens, obtendo dele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria. «Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida».
(texto: Pe Devair Carlos Poletto - 12/10/2010)

domingo, 10 de outubro de 2010

A voz do nosso pároco!

28º Domingo do Tempo Comum – Ano C – 10 de outubro de 2010
Textos: 2Rs 5, 14-17; Salmo 97; 2Tm 2,8-13; Lc 17, 11-19


Irmãos:

Jesus manso e humilde de coração!

A Eucaristia não pode estar desligada da vida cotidiana. Encontramo-nos para celebrar o imenso amor de Deus demonstrado a nós durante a nossa vida. Reunimo-nos, sobretudo no Dia do Senhor, porque temos fé. Gigantesca é a força de transformação de Jesus Ressuscitado.

Na primeira leitura do Segundo Livro dos Reis, nos deparamos com o relato da cura realizada por Deus a um homem, militar, estrangeiro e pagão. A novidade está no fato de que Deus não faz exclusão de nenhuma pessoa; embora as leis sociais e religiosas acabem gerando certos tipos de sociedades que acabam por contradizer a vontade de Deus. O ambiente histórico é de uma região do planeta que ferve culturalmente até hoje: o Oriente Médio.

Naamã percorre um «caminho» catequético: um caminho de fé, marcado pela humildade e pelo despojamento. Quando caminhamos nas estradas de Jesus e com Jesus ocorre uma transformação em nossas vidas.

Todos nós já sabemos que entre samaritanos e judeus – habitantes do centro e do sul de Israel – existia uma antiga inimizade, uma forte rivalidade que vinha desde o ano 721 a.C quando o imperador Sargon II tomou a cidade de Samaria, elevando-a à condição de Província, militarmente e deportou para a Assíria todas as pessoas alfabetizadas e a mão de obra qualificada para viverem como escravos. Na Assíria a classe dirigente e o povo judeu da Samaria abandonou a Aliança de Deus; lá eles mudaram de religião e passaram a seguir a religião dos assírios e casaram com mulheres pagãs, misturando não só as religiões, mas, formando uma raça mista que no futuro seriam conhecidos como «samaritanos». Todo esse relato está no 2Rs 17. E esse episódio entrou para a catequese judaica alimentando, entre uma raça e outra um ódio cultural que persiste até hoje no Oriente Médio. O Império Assírio ocupou militarmente a região leste da África subindo até a região do atual Iraque e os países vizinhos com Irã e Síria. Somente Judá, atual Israel, não fora ocupado. Judá estava cercada pelos inimigos políticos e militares à época.

Por isso, a cura de Naamã, atingido por grave enfermidade – a lepra – quebra todo o sistema puro-impuro implantado no Judaísmo. Deus não olha para o ser humano a partir de um sistema religioso assim. Eliseu, descrito como um «homem de Deus» (v.14-b) não age com preconceito; por outro lado, Naamã também não age com preconceito. «Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!» (v. 15). Eliseu não aceita um presente, oferecido por Naamã em forma de agradecimento; revela assim a verdadeira gratuidade da parte de Deus. Eliseu revela que Deus ama aquele que faz o bem sem querer nada em troca. Por isso Naamã deseja levar como lembrança somente um punhado de terra para casa e construir lá um pequeno altar onde pretende agradecer a Deus. «Mas permite que teu servo leve daqui a terra que dois jumentos podem carregar. Pois teu servo já não oferecerá holocausto ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao Senhor» (v. 17).

Irmãos:

O Evangelho proclamado extraído de Lucas, capítulo 17, nos apresenta também um encontro; 10 leprosos vão ao seu encontro. Esses homens estavam com hanseníase, ou seja, lepra. «Estava para entrar num povoado, quando dez leprosos vieram ao seu encontro» (v. 12). Ao mesmo tempo, o Evangelho de Lucas descreve a situação de completa exclusão daquelas pessoas; uma exclusão que era regida por leis sociais e religiosas estabelecidas por Moisés (cf. Lv 13,45-46). Assim como Naamã teve que tomar decisões e ter uma fé de atitudes para alcançar a cura, o Evangelho também quer destacar a «atitude dos leprosos».

O comportamento dos leprosos em relação a Jesus é exemplar, segundo a Lei. Eles «pararam à distância» (v. 12-c). A fala de Jesus também corresponde ao que prescreve a Lei de Moisés. Todo judeu que recebesse uma graça de Deus deveria ir ao Templo para agradecer e apresentar-se a um sacerdote para contar o fato (cf. Lc 14,1-2).

A novidade está no fato de que somente 1 leproso caiu em si e percebeu que deveria agradecer a Jesus, o Filho de Deus, e não à Lei de Moisés. «Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano» (v. 15-16). O que deve iluminar nosso entendimento é a revelação de que o leproso que retorna era um samaritano; um judeu considerado de segunda classe, uma pessoa inferior, um pobre.

A fé é a grande força dos pobres. A procissão de Nossa Senhora de Nazaré, o Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações católicas do planeta, revela exatamente isso. A fé é compromisso com a vida. Nesse mês de outubro sejamos discípulos e missionários de Jesus em todos os cantos de nossa paróquia.


Caríssimos:

Vivemos um momento histórico no Brasil muito importante e delicado. O povo católico e cristão tem que ter juízo nesse momento. Não se pode aceitar que os candidatos à presidência tratem o povo brasileiro como se fossem ignorantes. Não adianta mostrar uma realidade maquiada, produzida em estúdios de TV. Não adianta aparecer na TV com discurso eleitoreiro e com falas treinadas pelos agentes da publicidade para nos enganar. Temos de discutir projetos de políticas públicas para o povo mais pobre do país; não se quer discutir manutenção de estruturas. Infelizmente, os candidatos, ligados a partidos e suas coligações, não apresentam projetos concretos de atuação. Tentam convencer o eleitor com números fictícios, pesquisas manipuladas que não correspondem à realidade; tentam convencer o eleitor com feitos e os apresentam como se fossem um favor ou caridade por parte do Estado; nos últimos 16 anos tudo de bom realizado para o povo foi realizado com o dinheiro de impostos da nossa região Sudeste. Fomos nós que bancamos e financiamos. Não fora um partido ou liderança política. Queremos que a imensa maioria dos brasileiros pobres que, nem água encanada e esgoto possuem, tenham acesso à mínima condição de vida. Queremos redução significativa de impostos nos preços de remédios, alimentação, aluguel e tantas outras coisas. O voto é pessoal e individual; mas, o voto consciente é o voto realizado a partir de princípios e convicções também religiosos e, por isso mesmo pensado e realizado para favorecer os mais pobres do país e não a nós mesmos. A realidade nua e crua do país é dura, é cruel.
(Texto: Pe Devair Carlos Poletto - 10/10/2010)

domingo, 3 de outubro de 2010

A voz do nosso pároco

27º. Domingo do Tempo Comum – Ano C – 3 de outubro de 2010
Textos:
Hab 1,2-3; 2, 2-4; Salmo 94; 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17, 5-10


Caríssimos irmãos e irmãs: Povo de Deus em movimento na Vila Guilhermina:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


O tema principal do livro do profeta Habacuc, na primeira leitura, é a questão da justiça de Deus. Ele trava diálogos bastante duros com Deus. Habacuc nos coloca em diálogo com Deus. Logo no primeiro capítulo ele apresenta 1 queixa para Deus. Ele quer saber qual a raiz do mal que está no mundo. Por que temos a impressão de que os ímpios parecem triunfar nesse mundo? Essa queixa outros heróis da Bíblia também a apresentaram a Deus; sobretudo Jó (19,7) e o profeta Amós (3,9ss). «Senhor, até quando chamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: “Violência!”, sem me socorreres? Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade? Destruições e prepotência estão à minha frente; reina a discussão, surge a discórdia» (v. 2-3). Hababuc acusa Deus de ser o responsável pelo enfraquecimento da religião e da força da Lei. Olhamos para o mundo e constatamos: «o velhaco cerca o justo por todos os lados» (v. 4-c). Deus chamou Habacuc para que esse profeta fosse a voz dos justos nesse mundo e assim pudesse rogar a Ele mais ações para transforma-lo. A análise da realidade feita por Habacuc bem parece ser a dos dias de hoje. É o que vemos: violência por todos os lados e corrupção na política e na sociedade; o desmantelamento da moral e dos princípios. O livro de Habacuc apresenta as raízes do mal no mundo: a ilusão com a riqueza e o mau uso do dinheiro é a causa principal. «A riqueza engana mesmo: a riqueza faz o homem ficar com a boca arreganhada e parece com a morte, que nunca se dá por satisfeita» (cf. 2,5). A partir dessa causa principal o profeta vai apontando as consequências: o enriquecimento injusto (cf. 2,6: «Ai daquele que se enriquece com o que é dos outros»), o acúmulo do dinheiro proveniente da corrupção ( cf. 2,9: «Ai de quem ajunta dinheiro mal ganho, vai ser uma desgraça para a sua casa»), a construção de cidades e de governos com o sangue dos pobres (cf. 2, 12: «Ai de quem constrói uma cidade com sangue, ergue um povoado com injustiças»), a desonra causada pelas drogas e o sexo desenfreado (cf. 2,15: «Ai daquele que embriaga seu companheiro, que mistura suas drogas e os vapores do licor, para ver sua nudez!») e por fim o resultado mais drástico: transformar a riqueza numa espécie de «deus», ou seja, a idolatria, o amor ao dinheiro (cf. 2,18: «Ai de quem diz a um pedaço de madeira: ´Acorda` ou diz `Vamos´ para uma pedra muda (...) elas estão revestidas de ouro e de prata e não há no ouro e na prata nenhum sopro de vida»).

Deus responde: «Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé» (v. 4). Habacuc é profeta que enxergava tão bem a realidade em que vivia que, quando se dirigia a Deus, apresentava somente reclamações e lamentações. No final do seu livro ele elabora um hino de louvor onde diz que não podemos nos esquecer de que Deus está presente na Criação e que é Ele o Senhor da História. «O Senhor Deus é a minha força» (cf. Hab 3,19).

Na segunda leitura da carta de Paulo a Timóteo o autor nos apresenta de onde procede o ser e o chamado para a Igreja e para a comunidade cristã; fomos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus porque esse é o Plano de Deus, um plano de salvação. Nós temos que tomar consciência que recebemos do Senhor o dom da fé, da força e do amor. Portanto, Deus exige de nós uma resposta. «Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade» (v. 6-7). Não devemos sentir medo de agir e de atuar; de dar testemunho no mundo da fé católica que professamos. «Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus» (v. 8).

As palavras de Paulo lembram as palavras proféticas de Habacuc: «O justo viverá pela fé» (cf. Hab 2,4), ou seja, só quem se manter fiel, agir com fidelidade mesmo diante das mais absurdas adversidades poderá viver. Por isso, a recomendação final: «Guarda o precioso depósito, com a ajuda do Espírito Santo, que habita em nós» (v. 14).

O texto de Lucas, no Evangelho, apresenta os discípulos, os 12 e depois os 72, fazendo uma declaração que revela a sua consciência de que tem pouca fé. «Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!”» (v. 5). Eles fazem essa declaração porque quando foram enviados em missão não agiram no espírito dos ensinamentos de Jesus (cf. Roteiros do Tríduo de S. Francisco de Assis).

A resposta de Jesus é clara: os discípulos tem fé, mas, uma fé pequena, parecida como um grão de mostarda, a menor de todas as sementes. «Se tivésseis fé, mesmo pequena» (v. 6). E Ele faz uma revelação muito importante: a fé mesmo pequena pode fazer grandes coisas, basta agir. «Poderíes dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria» (v. 6-b). O pé de amora como o da figueira simboliza a fecundidade na Bíblia e na cultura do povo judeu. Em outros momentos Jesus já havia declarado que uma figueira sem frutos não tem valor e amaldiçoou a figueira. «Nunca mais produza fruto algum. E no mesmo instante a figueira secou» (cf. Mt 21,19). E os discípulos ficaram espantados e perguntaram a Jesus o que aconteceu que a figueira secou tão de repente. «Em verdade vos digo: se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que fiz com a figueira, mas também, se disserdes a esta montanha: `Arranca-te daí e joga-te no mar´, acontecerá» (cf. Mt 21, 21).

Finalmente, Jesus vai ao ponto fundamental da pequena fé dos discípulos. Eles queriam uma espécie de retribuição, por parte de Jesus, pela missão que realizaram. Por isso narra uma alegoria sobre o empregado que trabalha para um patrão. Ele chama os discípulos de «simples servos» fazendo uma alusão ao modo de viver e da fé que professavam os fariseus. Quantas vezes caímos na tentação de, recebendo o dom da verdadeira fé em Cristo, pelo batismo, acabamos agindo como os fariseus que tinham uma fé só de aparência, uma fé só para se exibir, uma fé só para dominar os outros.

Talvez tenhamos que reconhecer que somos apenas «servos de Deus» e não «servos inúteis».


Povo de Deus em movimento!

Amanhã, dia 4 de outubro, festejaremos o dia do nosso padroeiro S. Francisco de Assis, o «pobre de Deus». Ele inspire e fortaleça a nossa fé; ajude-nos na fidelidade e compromisso com o Evangelho e amar a Igreja.
(Texto: Pe. Devair Carlos Poletto - 3/10/2010)

Declaro, Feliz Aniversário!!!

Ao MEJ com carinho
Por Everson Lima

Parabéns MEJ Paróquia São Francisco de Assis, pois durante esses 6 anos conseguimos crescer, evoluir e amadurecer com grande força, coragem, disposição, seriedade, muita alegria e bastante oração. Mas, não podemos nos esquecer, que embora amadurecemos, estamos sempre em processo de crescimento!

Nossas vidas completam hoje 6 anos. Anos estes que tivemos grandes conquistas e decepções, pois afinal somos seres humanos e temos que passar por esses desafios a fim de alcançarmos nossos objetivos e, alcança-los com louvação.

Também, como não iríamos atingir nossos propósitos se temos ao nosso lado Ele que nos alimenta com seu Corpo e Sangue, a Eucaristia.

Eucaristia que é um dos nossos pilares e, juntamente com os outros dois – Evangelho e Missão – nos tornam completos para enfrentarmos a realidade!

Não tenho palavras para expressar o que realmente sinto quando estou com vocês. Mas quero que saibam que o amor que sinto por vocês não cabe dentro de mim. Ao ponto de querer estar todos os dias ao lado de vocês. Como não posso. Vivo intensamente cada momento e, pelo menos acho, que vocês sabem disso!

Amo vocês com todas as forças e faço tudo para que o MEJ cresça cada dia mais. E não só em nossa Paróquia de São Francisco de Assis, mas em todos os lugares por onde passo!

FELIZ ANIVERSÁRIO MEJ!!!

sábado, 2 de outubro de 2010

Tríduo de São Francisco de Assis - 3º dia

PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS - VILA GUILHERMINA


61 ANOS EVANGELIZANDO
1949-2010


TRÍDUO DE SÃOFRANCISCO DE ASSIS - 3º DIA

"Como ser discípulo e missionário de Jesus Cristo diante da desestruturação da família?


Neste terceiro e último dia do Tríduo de São Francisco, fomos convidados a refletir sobre a realidade da família e nossa atuação missionária diante desta realidade.

O temário desse ano quer nos apresentar os grandes assuntos de nosso tempo imersos num processo e num projeto desencadeado pelas forças políticas e econômicas desde a década de 90. Trata-se do fenômeno da «globalização». São temas que afetam profundamente no nosso ser e agir enquanto comunidade seguidora do Senhor Jesus Cristo. São os grandes temas que deverão nortear a nossa formação intelectual e espiritual nos próximos anos. Tendo consciência de que estamos em «mudança de época» nos defrontamos com novas características que vão compondo o retrato do mundo em que vivemos. Uma dessas características é o «pluralismo» em todas as áreas que traz consequências sérias; uma dessas consequências é a desestruturação da família. Olhamos para esses desafios com os olhos da razão, mas também com os olhos da fé. Mas, queremos que uma fé profética nos ajude, com gestos concretos, a compreender melhor a realidade.

A «desestruturação da família» ocorre na medida em que surgem «novos» modelos de comunidade e de relacionamentos. Não podemos encarar o «novo» como algo absolutamente inatingível e incompreensível. Trata-se de um desafio, pois a «a realidade traz inseparavelmente uma crise de sentido» (DA, 37). Por isso, somos condicionados a buscar outra realidade, a «realidade virtual». A realidade virtual é uma ficção da realidade em todas as suas áreas. Ela é mais atrativa e imaginativa; ela nos enche de fantasia e preenche certo «vazio produzido em nossa consciência» (cf. DA, 38). Com os olhos voltados para o virtual desviamos o nosso pensar sobre a «verdade real» que nos envolve. É uma tragédia, pois perdemos o sentido de unidade da humanidade: resultado de um estilo de vida positivista.

Um fato desconcertante e que causa profunda insegurança é o de que as tradições culturais já não se transmitem de uma geração à outra. Isso afeta diretamente o núcleo familiar que fora construído a partir da experiência religiosa. A família, antes lugar do diálogo, da educação e da solidariedade entre as gerações encontra agora dificuldades. Os meios de comunicação social e as novas tecnologias invadiram todos os espaços e todas as conversas no interior da família.

Entre os pressupostos que enfraquecem e menosprezam a vida familiar encontramos a «ideologia de gênero», segundo a qual cada um pode escolher sua orientação sexual, sem levar em consideração as diferenças dadas pela própria natureza. Isso tem provocado modificações legais que ferem gravemente a dignidade do matrimônio, o respeito à vida e a identidade da família.

O Evangelho de Lucas apresenta-nos o resultado da missão empreendida pelos 72 discípulos enviados por Jesus. Eles retornam «muito contentes» (v. 17), pois conseguiram ter ações que, na compreensão deles foram ações que manifestaram o grande poder de Jesus. «Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa de teu nome» (v. 17-b). Paradoxalmente, a alegria e o contentamento dos discípulos não consegue atingir Jesus. «Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago» (v. 18). O foco da alegria para os discípulos é a manifestação do poder de suas ações; no entanto, Jesus diz que a verdadeira alegria não está no sucesso das ações, mas, no fato de que foram chamados para fazer parte da comunidade e do grupo dele. «Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu» (v. 20).

Decepcionado com os Doze, decepcionado com os 72, Jesus volta-se agora para outro grupo que Ele chama para realizar a missão: os «pequeninos» (v. 21-c). O discípulo como Jesus, sendo grande deve ter a simplicidade dos pequenos. «Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre por amor; para que sua pobreza nos assim enriquecesse» (cf. 2Cor 8,9). O discípulo tem que realizar em sua vida o mesmo processo realizado por Cristo. «O Filho do Homem veio ao mundo para servir e dar a sua vida em resgate de muitos» (Mc 10, 45). Paulo na sua carta aos Filipenses desenvolverá essa espiritualidade exigida por Jesus aos seus discípulos radicalmente. Ele chegará a afirmar que tudo para ele é considerado «perda e lixo» (Fl 3, 8).

Nosso padroeiro S. Francisco de Assis conseguiu desenvolver essa espiritualidade em sua vida. Ele conseguiu agir no mundo sendo discípulo e missionário de Jesus Cristo, na verdadeira alegria.


(Texto: Pe Devair Carlos Poletto)


São Francisco de Assis!
Rogai por nós!


Participem, nesta segunda-feira da missa em louvor à São Francisco de Assis, às 20h.

Tríduo de São Francisco de Assis - 2º dia

PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS - VILA GUILHERMINA


61 ANOS EVANGELIZANDO
1949 - 2010


TRÍDUO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 2º DIA

"COMO SER DISCÍPULO E MISSIONÁRIO DE JESUS CRISTO NUM MUNDO PLURALISTA?"



Neste segundo dia do Tríduo do nosso padroeiro, fomos convidados a refletir sobre um dos efeitos da mudança de época pela qual a sociedade atual passa, um mundo "pluralista"

Ontem no primeiro dia do Tríduo fizemos uma breve reflexão, a partir do Evangelho de Lucas, sobre a realidade pastoral a qual estamos inseridos em nosso tempo. Uma realidade mergulhada num contexto de «mudança de época». Também tentamos indicar pistas que o próprio Jesus nos dá no Evangelho, embora temos a consciência de que os ensinamentos Dele quase nada afeta o nosso modo de pensar e sobretudo no agir.

Diante de um mundo pluralista Jesus nos recorda a necessidade de agir profeticamente. Essa ação deve estar imbuída daquele jeito novo que Ele indica (cf. Lc 10, 3-11).

Um dos aspectos mais fortes do resultado do fenômeno da globalização é a presença marcante de certo pluralismo inserido na realidade. Como não estamos acostumados ao pluralismo, mas acostumados a uma mesmice de toda ordem, somos tentados a achar que o pluralismo deve ser combatido. Em parte isso é verdade. Quando a pluralidade é utilizada pelos poderosos simplesmente como «estratégia» para continuar a dominação e a exploração do ser humano devemos denunciá-lo com todo rigor. Quando a pluralidade é utilizada para destruir as raízes da família e da comunidade, afastando-as dos ensinamentos do Evangelho de Cristo, devemos não só agir profeticamente, mas, atuar na mesma realidade conflitante. Mas, essa atuação deve ser no sentido de «inculturar a fé» (cf. DA, 479). Com esse objetivo podemos ter ações pastorais mais ricas, com novas expressões e novos valores; podemos inclusive celebrar cada vez mais e melhor o mistério de Cristo, unindo a fé com a vida.

Parece que ainda nos sentimos desorientados frente a essa mudança cultural oriunda de uma cultura globalizada. Novamente, é o Evangelho de Jesus Cristo que nos dá pistas quanto ao pensar e ao agir.

A pessoa humana deve estar no centro de toda vida social e cultural ressaltando nela a dignidade de serem imagem e semelhança de Deus, sem distinções. «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que foram feitos no vosso meio, há muito tempo teriam feito penitência» (v. 13).

A fé cristã nos mostra Jesus Cristo como a verdade última do ser humano, o modelo no qual o ser humano se realiza em todo o seu esplendor. Anunciá-lo integralmente em nossos dias exige coragem e espírito profético.

Nosso padroeiro São Francisco de Assis tomou consciência da realidade do seu tempo e abraçou a mensagem de Jesus anunciando-a com a simplicidade; resgatou as raízes do Evangelho, num mundo afastado da essência do Evangelho de Jesus. Por isso, em sua oração a insistência de levar em atitude missionária: levar o amor, o perdão, a união, a fé, a verdade, a esperança, a alegria e a luz. Anúncio e atitude com consciência de ser um «instrumento da paz», por isso, nós devemos consolar, compreender, amar, dar e perdoar.

(Texto: Pe Devair Carlos Poletto)

São Francisco de Assis!

Rogai por nós!

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