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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Jornadas Teológicas Norte: Entrevista com Enrique Dussel


Ermanno Allegri
Diretor da ADITAL
Adital


Durante a Jornada Teológica da Região Norte, realizada de 5 a 8 de outubro, na Cidade do México com a participação de representantes da Teologia da Libertação, especialmente mexicanos e hispânicos dos Estados Unidos e Canadá, Aditalconversou com Enrique Dussel, filósofo, teólogo e professor da Universidade Nacional Autônoma do México – UNAM. Na oportunidade, foram abordados temas como a Teologia da Libertação e os novos pensamentos que merecem a atenção na produção teológica, a onda de manifestações desencadeada pelos indignados da Espanha e pelos estudantes chilenos, e o livro El Pensamiento Filosófico Latinoamericano, del Caribe y ‘Latino': de 1300 y hasta 2000.
Confira a entrevista.
ADITAL: Atualmente, que fatos e que pensamentos novos merecem a atenção na produção teológica, sobretudo no que se refere à Teologia da Libertação e as teologias que dela nasceram?
Enrique Dussel: Alguns creem que a Teologia da Libertação acabou porque foi muito criticada dentro das igrejas, especialmente pela Católica, pelo Vaticano. Muitos bispos foram nomeados para condenar essa Teologia. Porém, o que acontece é que essa Teologia da Libertação, primeiro, foi a única nascida na América latina e que responde à nossa realidade, de maneira que qualquer pessoa que queira estudar teologia, quando lê as obras teológicas europeias entende que é uma teologia dogmática, abstrata e crê que isso é a teologia. Porém, quando lê a Teologia da Libertação Latino-americana, percebe que é uma teologia ligada à nossa realidade e que está explicando as contradições de nossa cultura. É uma diferença abismal. Por isso, é a única latino-americana e tem sido muito perseguida; porém, necessariamente, terá que ressurgir, e as teologias do futuro terão que referir-se a ela. Além disso, como mencionaste, há muitas teologias novas: a teologia indígena, a teologia afro-americana, a teologia feminista. Porém, todas são como um prolongamento da Teologia da Libertação. Esta foi uma teologia fundamental, que deveria ter sido desenvolvida diferencialmente e isso é o que está acontecendo. Isto é, que a teologia feminista é uma teologia da libertação e assim as demais. Vejo isso muito presente. Agora, deveríamos exigir que os jovens, as novas gerações, instrumentem com categorias filosóficas, sociológicas, antropológicas, psicanalíticas as mais importantes, as mais críticas e as mais atuais; e pensem a teologia a partir disso, e não simplesmente que pensem a teologia a partir de si mesma; mesmo a partir somente da Teologia da Libertação, pois, torna-se repetitiva. A Teologia da Libertação foi a fé cristã de pessoas que sabiam teologia; porém, incluía ciências sociais e tinha uma prática com as pessoas; ao falar de teologia, propunha novos temas e novas soluções. E, por isso mesmo, era tão original. E é isso o que está faltando agora: voltar a essa originalidade, porque muitos já repetem a Teologia da Libertação e esse não é o tema, ou, claro, fazem um comentário às obras europeias (mesmo as progressistas); porém, estão muito longe da Teologia da Libertação. Inclusive, a teologia Política europeia não é o que necessitamos.
ADITAL: Vivemos uma mudança de época e há valores que estão perdendo vigência para dar espaço a novos valores. Quais enfoques a Teologia da Libertação e o trabalho que fazemos como cristãos devem ser desenvolvidos para construir a nova história?
ED: O movimento de libertação surgiu de todos os movimentos que aconteceram no final dos anos 60 e, politicamente, foi a Revolução Cubana a que mobilizou a estrutura da política latino-americana, porque era uma revolução muito temida pelos Estados Unidos e que fez com que todo o campo político se movimentasse, culminando nos movimentos de 1968, que não se reduziu ao movimento estudantil, em Paris ou em Berlim; mas, aconteceu no México, em Tlatelolco; na Argentina, com o Cordobazo; e na América Latina o ano de 68 teve muita importância; porém, também foi um momento teórico porque houve uma nova Filosofia, sobretudo com a Escola de Frankfurt, através da qual se começou a conhecer Franz Borgan. Então, foi um movimento de grande criatividade teórica, criatividade prática, compromisso dos cristãos nos movimentos políticos. Era necessário dar uma nova explicação de como comprometer-se. Muitos, com a atração do marxismo, perdiam sua fé ou então tinham que dar uma nova explicação para que a fé continuasse funcionando como geradora da política e não se perdesse no compromisso. A Teologia da Libertação conseguiu isso; fez com que toda uma geração de jovens não só não perdessem sua fé, mas que fossem a vanguarda em um processo de mudança na América Latina e que culminou com a revolução Sandinista, que foi levada quase por cristãos. No Chile, o mesmo, a presença de cristãos; e daí em diante, sempre a presença de cristãos, pois já sabiam como lidar com mudanças históricas com a Teologia Renovada. Para os grupos conservadores, para as estruturas mais hierárquicas da Igreja, isso era muito crítico e não o aceitaram. Assim, após o Grande Concílio, que abriu as portas (na realidade, o Concílio Vaticano II, como não se interessava muito pelo Direito Canônico, nem pelas instituições vaticanas, porque não lhe davam importância, pois não as mudou), essas instituições romanas e esse Direito Canônico retomaram o poder na Igreja e o profetismo do Concílio começou a ficar para trás, como está hoje; e, claro, tudo isso gera uma mudança completa.
Porém, de todas as maneiras, hoje, é necessário voltar à Teologia a partir do horizonte dos novos pensadores; é necessário perceber quem são os grandes filósofos, sociólogos que podem dar-nos, à Teologia, uma nova visão; e, ao mesmo tempo, o sistema capitalista, especialmente o sistema financeiro, está em uma crise espantosa. Porém, ao mesmo tempo, começa a fazer algo que nunca fez na história do liberalismo e do capitalismo: explorar ao Estado Nacional; isto é, o capital financeiro que são os bancos e a bolsa está acostumando-se a fazer negócios com os Estados. Os capitalistas roubam seu dinheiro, guardam seu dinheiro nos bancos, declaram-se em quebra e pedem para ser resgatados pelo Estado e esse é um negócio fantástico e os Estados até agora não sabem como funciona o sistema e os estão ajudando para que o sistema bancário não entre em bancarrota. Porém, chegará o dia em que o sistema bancário terá que ser nacionalizado e se acabar toda a propriedade privada do capital financeiro porque está estafando aos Estados e isso faz com que os povos comecem a insurgir-se. Aí estão as comoções na Grécia e o Movimento dos Indignados nos faz pensar que estamos em 1968.
É uma grande oportunidade para uma grande Teologia e também estamos vivendo uma mudança de época fundamental.
ADITAL: Nesse momento de mudança de época, houve um acontecimento fundamental para a história da filosofia: foi lançado, aqui no México, o livro El Pensamiento Filosófico Latinoamericano, del Caribe y ‘Latino': de 1300 y hasta 2000. Você, Enrique Dussel, com Eduardo Mendieta e Carmen Bohórquez aticularam essa obra, um volume de mais de mil páginas. Pode explicar a novidade e o sentido revolucionário dessa obra?
ED: Claro! Penso que essa obra é a culminação de um processo de um século que começa em 1910, com a Revolução Mexicana e começar a pensar muito rápido se há ou não há e como deve haver uma Filosofia Latino-americana, com Francisco Romero, na Argentina; com Leopoldo Zea, no México e grandes autores que estudaram a história do pensamento filosófico; porém, não falaram propriamente de uma filosofia latino-americana que propusesse perguntas e que respondesse de uma maneira original de tal forma que se colocasse dentro da discussão filosófica mundial com uma postura distinta. Creio que a primeira filosofia que faz isso explicitamente é a Filosofia da Libertação. Que não é somente uma História da Filosofia Latino-americana, mas uma Filosofia que tem consciência de ser distinta da europeia e da americana e tem perguntas distintas, respostas distintas e metodologia distinta. Agora, esse movimento original de Filosofia da Libertação necessita reconstruir a história dessa opção que diz "temos que pensar desde a América latina; porém, temos que pensar desde os oprimidos/as da América Latina”.
Essa não seria a perspectiva da maioria dos filósofos; mas, da minoria. Por isso é que essa obra, em certo sentido, é uma negociação política com todas as correntes filosóficas, onde autores prestigiados das distintas correntes (e são 18 correntes) fizeram parte dessa obra, que não é uma História da Filosofia Latino-americana a partir da Filosofia da Libertação.
É algo prévio; é uma primeira visão de conjunto. Porém, o fato de que um estudante possa ter essa obra em suas mãos e tomar conhecimento de todos os grandes filósofos latino-americanos com certas perguntas novas já é um fato original de uma nova época. Por isso é que é o fim de um processo de tomada de consciência e daqui em diante surgirão muitas outras Histórias da Filosofia. Porém, terão que referir-se a essa como ponto de partida, porque foi a primeira. E tem muita originalidade: é a primeira que considera a filosofia dos grandes sábios das grandes culturas originárias. Por isso, colocamos uma data simbólica: 1300. Poderia ter sido 800, porque há sábios; porém, em 1300 já há pensadores indígenas, com biografia, com data de nascimento e morte; obras conhecidas em códices... Então, já podemos falar deles. Também, queríamos romper com 1492. Então, são 700 anos de Filosofia na América Latina. E, claro, incluímos ao Caribe, porque é parte da América Latina e a parte Latina nos Estados Unidos; são 50 milhões de habitantes e têm um pensamento filosófico. O consideramos latino-americano; então, é forte.
O século XVI é o começo da filosofia moderna da Europa.
Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=61392 (Acesso 24/10/2011 às 19h42)

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