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domingo, 30 de janeiro de 2011

A voz do nosso pároco

4º. Domingo do Tempo Comum- Ano A – 30 de janeiro de 2011.
Textos:Sf 2,3;3,12-13; Salmo 145; 1Cor 1,26-31; Mt 5,1-12a


Meus irmãos:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


A primeira leitura que ouvimos é a voz retumbante do profeta Sofonias no Antigo Testamento. É um texto profético essencial. Sofonias anuncia a verdadeira palavra de Deus. Sofonias inspirou Tomás de Celano, poeta e escritor italiano, a compor o famoso «Dies Irae», o dia da ira de Deus, o julgamento que Deus realiza na terra na forma de um poema. Tomás de Celano que viveu no século 13 foi também biógrafo de S. Francisco de Assis. A melhor musicalidade desse texto bíblico e poema foram alcançados pela inteligência e pelas mãos de Mozart, compositor austríaco do século 18 na sua obra «Réquiem». O poema exalta o poderio de Deus o Senhor e a sua força. Deus transforma os tempos humanos, séculos de história, em cinzas. «Dies iræ, dies illa, solvet sæculum in favilla ». Tudo se dissolve em cinzas. No poema de Celano até a morte e a natureza que agiram na terra com suas leis, temem a Deus.

Os poucos versículos que uma voz humana fez adentrar nossos ouvidos apresenta uma indicação de Deus aos seus verdadeiros fiéis. «Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade; achareis talvez um refúgio no dia da cólera do Senhor» (v. 3 do cap. 2). Buscar o Senhor é procurar agir conforme a vontade de Deus. Numa sociedade organizada – dividida em classes, raças, religiões – os mais fortes se apresentam como modelos e os mais fracos procuram modelos de vida e comportamento nos mais fortes. Mas, Deus diz aos mais fracos: não procurem imitar e encontrar modelos de vida naqueles que oprimem. «Praticai a justiça, procurai a humildade» (v. 3b). Um mundo melhor só pode surgir do rebanho de pobres escolhidos por Deus que lhe são fiéis. A Bíblia os chama de «anawin», os pobres da terra.

Escrevendo aos coríntios, Paulo recorda na segunda leitura, como e onde as comunidades nasceram, ou seja, no meio dos empobrecidos da cidade. Os versículos deste domingo nos dão o perfil das pessoas que aderiram ao projeto de Deus em Corinto: fracos, vis, desprezados, pessoas que as elites consideravam como loucas como não gentes. Em síntese, uma maioria de empobrecidos. «Considerai vós mesmos, irmãos, como fostes chamados por Deus. Pois entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres. Na verdade, Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir os sábios; Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte» (vv. 26-27). Paulo se dirigiu a essa gente porque acreditava no Deus de Jesus Cristo, o Deus do êxodo, que optou pelos fracos e marginalizados, a fim de libertá-los e dar-lhes vida. Em outra ocasião, ele escreve às mesmas comunidades: «Vocês conhecem a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo; ele, embora fosse rico, se tornou pobre por causa de vocês, para com sua pobreza enriquecer vocês» (2Cor 8,9). A elite de Corinto pensava que religião fosse questão de cultura acadêmica. Para ela, seria impossível que Deus se interessasse pelas periferias. E a loucura extrema seria a encarnação de Deus no meio dos que foram relegados à margem da sociedade. Em síntese, só haveria espaço para um deus burguês, comprometido com as elites e sua religião. O projeto de Deus, que privilegia os fracos e desprezados, as pessoas que não têm nome nem fama, transtorna a sabedoria humana. «Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante, para que ninguém possa gloriar-se diante dele. (vv. 28-29). Para Paulo, isso se tornou claro e evidente na pessoa e na prática de Jesus, no qual se manifesta a sabedoria de Deus, sua justiça, santificação e redenção. «É graças a ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte de Deus: sabedoria, justiça, santificação e libertação» (v. 30).

O Evangelho deste domingo propõe a passagem das Bem-aventuranças e começa com a célebre frase: «Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus». A afirmação «bem-aventurados os pobres de espírito» com frequência é mal entendida hoje, ou inclusive se cita com algum sentimento de compaixão, como se fosse para a credulidade dos ingênuos. Mas Jesus jamais disse simplesmente: «Bem-aventurados os pobres de espírito!»; nunca sonhou pronunciar algo assim. Disse: «Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus», que é muito distinto. Deturpa-se completamente o pensamento de Jesus e se banaliza quando se cita sua frase pela metade. Assim separa-se a bem-aventurança de seu motivo. Seria por um exemplo gramatical, como se se dissesse, suponhamos: «O que semeia...»; se entende algo? Nada! Mas se acrescenta: «colhe», imediatamente tudo se esclarece. Também se Jesus tivesse dito apenas: «Bem-aventurados os pobres!», soaria absurdo, mas quando acrescenta: «porque deles é o Reino dos Céus», tudo se faz compreensível.

Mas que bendito Reino dos Céus é este, que realizou uma verdadeira «inversão de todos os valores?» É a riqueza que não passa que os ladrões não podem roubar nem a traça consumir. É a riqueza que não se deve deixar para outros com a morte, mas que se leva consigo. É o «tesouro escondido» e a «pérola preciosa», aquilo que, para ter, vale a pena – diz o Evangelho – deixar tudo. O Reino de Deus, em outras palavras, é o próprio Deus.

Sua chegada produziu uma espécie de «crise de governo» de alcance mundial, uma mudança radical. Abriu horizontes novos. Em alguma medida como quando, no século XV, se descobriu que existia outro mundo, América, e as potências que ostentavam o monopólio do comércio com o Oriente, como Veneza, se viram de golpe surpreendidas e entraram em crise. Os velhos valores do mundo – dinheiro, poder, prestígio – mudaram, se relativizaram, inclusive se rejeitaram, por causa da chegada do Reino.

E agora quem é o rico? Talvez um homem tenha uma ingente soma em dinheiro; pela noite se produz uma desvalorização total; pela manhã se levanta sem nada ter, ainda que não saiba ainda. Os pobres, pelo contrário, estão em vantagem com a vinda do Reino de Deus, porque ao não terem nada que perder está mais disposto a acolher a novidade e não temem a mudança. Podem investir tudo na nova moeda. Estão mais preparados para crer.

Cremos que as mudanças que contam são aquelas visíveis e sociais, não as que ocorrem na fé. Mas quem tem razão? Conhecemos, no século passado, muitas revoluções deste tipo; contudo também vimos o que facilmente, depois de algum tempo, acabam por reproduzir, com outros protagonistas, a mesma situação de injustiça que pretendiam eliminar.

Há planos e aspectos da realidade que não se percebem à simples vista, mas só com a ajuda de uma luz especial. Atualmente se disparam, com satélites artificiais, fotografias com raios infravermelhos de regiões inteiras da terra, e quão diferentes se vê o panorama com esta luz! O Evangelho, e em particular nossa bem-aventurança dos pobres, nos dá uma imagem do mundo «com raios infravermelhos». Permite captar o que está por baixo, ou mais além da aparência. Permite distinguir o que passa e o que fica.
(Texto: Pe Devair Carlos Poletto - 30/01/2011)

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