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segunda-feira, 12 de julho de 2010

As TVs católicas

Texto:Domingos Zamagna(*)
Enviado por: Pe. Devair Carlos Poletto


Os mineiros, que geralmente são bem sensatos, costumam aconselhar: em época de férias o melhor que se faz é desligar a televisão. Já faz tempo que saí de Minas, talvez por isso tenha feito exatamente o contrário. Nos meus dez dias de férias grudei na televisão, dia e noite. Explico-me: quase não tenho tempo de acompanhar as programações de TV; jornalismo e magistério não me dão mais tempo para a TV. Não me dão “mais” porque, durante dezoito anos, fui jornalista de TV. Posso dizer que conheço um pouco desse veículo e tenho contatos freqüentes com colegas semeados por quase todas as TVs.
Entretanto, quis propositadamente ver com meus próprios olhos a quantas andam as chamadas TVs católicas. Fiz, por isso, uma imersão nesse mundo. Isso vai render um estudo que, complementado com outras observações, leituras e análises pretendo apresentar em sala de aula. Mas posso desde já antecipar algumas breves observações.
Começo pelas surpresas desagradáveis. Desculpem-me a franqueza, mas a Igreja Católica não merece o que vi. Sobre a maior parte do que pude apurar, custa-me crer que sejamos capazes de produzir programas de tão baixo nível; pareceu-me que fizemos um pacto com a feiúra. E se tivesse de adquirir todos os produtos ali anunciados, desde os penduricalhos da fé (medalhinhas, bentinhos, livrinhos, romarias etc.) iria certamente fazer um dos mais excêntricos repositórios de apetrechos fúteis. Fiquei, além disso, admirado com a quantidade de gente, alguns incrivelmente jovens, semeando “certezas” que não resistem aos mais moderados e respeitosos questionamentos. Tive a impressão de presenciar um apagão teológico ou regredir quatro séculos no tempo, sobretudo ao ouvir transmissões de sandices alucinantes como se fossem a ortodoxia da fé. Além do que o nível de repetição pareceu-me tão elevado que, por um princípio de economia, praticamente nem precisamos assistir alguns programas para saber o que dirão ad nauseam.
As pessoas que se postam diante dessas emissoras geralmente sabem de cor o catecismo, possuem edições da Bíblia, são dizimistas, têm em casa provisão de água benta para mais de seis meses, veneram o Papa, respeitam o clero, freqüentam os templos, empolgam-se com as pompas litúrgicas, praticamente nem precisam dessas TVs, a não ser como auto-convencimento ou, pior ainda, como auto-engano. Desconfio, porém, que os que mais precisariam da mensagem evangélica pela TV nem sequer entendem aquela linguagem devocional.
Excluo destas observações, por exemplo, a TV Aparecida, ou as de universidades católicas. Elas têm por suporte equipes que conhecem a Teologia e sabem o que é evangelização.
Ao acompanhar alguns programas, vinham-me calafrios: o que deles pensarão os ateus, ou os que não têm mais fé, ou os que têm juízo crítico, ou simplesmente as pessoas dotadas de experiência de vida? Não deveríamos expor a Igreja à irrisão das pessoas competentes.
Feitas essas observações e indagações – algumas até para provocar a reflexão de meus leitores – confesso que estou, sempre estive convencido que a TV pode ser um importantíssimo meio de evangelização. Mas não deveríamos nos acomodar com essa hemorragia de religiosidade destilada pelas nossas TVs. O excesso de religião pode levar à superstição.
Pude constatar, porém, e com enorme satisfação, que as TVs católicas abrigam também valores altamente promissores. Pessoas – clérigos, religiosos e leigos – que, se forem apoiadas e puderem se dedicar de corpo e alma ao veículo, certamente nos apresentarão um trabalho de boa qualidade. Nas mídias, de fato, estão os espaços mais privilegiados de que dispomos para fazer chegar a Palavra de Deus ao povo brasileiro. Feitas algumas bastante sérias, criteriosas e realistas revisões, essas TVs serão um rico potencial evangelizador e, melhoradas, merecerão o apoio de cada católico.
Porque não sou e nunca fui radical, e para não assustar ninguém, diria o seguinte: a TV é um veículo difícil de ser dominado. Considero que estamos todos na fase de aprendizado. Devemos ser compreensivos com as dificuldades ainda encontradas, mas ao mesmo tempo precisamos ser muito exigentes e não aceitar improvisações e pregações que quase se nivelam com algumas TVs de certas confissões religiosas ou pseudo-religiosas.
Na Igreja, quando fazemos críticas, nós as fazemos sempre com espírito construtivo, como membros da Igreja interessados no aperfeiçoamento de nossas instituições. Mas nós as fazemos também esperando a maturidade das pessoas e das instituições, que já devem ter superado uma exacerbada sensibilidade, e saibam acolher com naturalidade as sugestões que lhes chegam, não só de especialistas, mas das pessoas mais simples. É nesta última categoria que me incluo, porque o que exprimi nestas linhas é também o pensamento de muitos e muitos católicos brasileiros.

(*) Jornalista e professor de Filosofia

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