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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

IGREJA - POVO DE DEUS - EM MOVIMENTO

Nossa Igreja não para mesmo, está sempre em movimento!

Preocupados e atentos à isso, o mesmo grupo de padres que organizou o Encontro de formação com Dom Angélico, está agora debruçado sobre o livro: “Outro Cristianismo é Possível – A fé numa linguagem moderna” da Editora Paulus, cujo autor é o padre belga Roger Lenaers.

O que podemos esperar após este estudo?
Um novo encontro de formação?
Um material de estudo com base neste livro?

Ainda não temos a resposta, mas enquanto esperamos para descobrir, publicaremos a seguir - em primeira mão - a síntese dos capitulos 11 e 12.

Dúvidas poderão ser encaminhadas através do espaço para comentários da mensagem!
Boa leitura!

Rosangela Molina


«Outro Cristianismo é Possível – A fé em linguagem moderna»
LENAERS, Roger. Editora Paulus, 2010. Coleção Tempo Axial.
Capítulos 11-12

«Crer que Jesus ressuscitou? Ou crer naquele que vive»
«Pão integral em vez de chocolate. Há uma vida após a morte?»



Texto: P. Devair Carlos Poletto

O autor, motivado pelo texto de Dn 2,28b-35, propõe o que ele chama de «uma linguagem moderna», para o conteúdo da fé cristã, por conta da sua formação acadêmica na área da Teologia sob o olhar da filologia. É na ótica da filologia que autor também lê as constituições dogmáticas do Concílio Vaticano II, vendo nesse concílio avanços, mas também retrocessos. O retrocesso principal está no fato de que a Igreja pegou os textos produzidos durante séculos e pura e simplesmente, as traduziu para o vernáculo, não respeitando a vida e os costumes de cada país. Para o autor aí está a razão principal da sensação estabelecida mundialmente de que a fé proclamada pela Igreja se torna incompreensível e obsoleta.

Defensor da «autonomia do pensamento» propõe também uma revisão, não especificamente do conteúdo do CIC, mas, de sua linguagem. O autor faz uma crítica velada em sua obra da fidelidade exagerada por parte dos acadêmicos eclesiásticos ao olhar a produção e o ambiente na qual se foi construindo o que a teologia chama de «Revelação». Para o autor, é necessária uma atualização da linguagem da fé cristã, trazendo para os fiéis não acadêmicos elementos culturais da fé fundante. A obra é, na verdade, um convite para uma revisão.

Entretanto, podemos perceber ao longo da obra, argumentos de certo subjetivismo religioso e filosófico; sobretudo, no que se refere à Cristologia. O autor procura desmontar e rejeitar toda a Teologia Sistemática.

Utilizando, pois instrumentos de análise da Filologia o autor apresenta as diferenças em se professar a fé, a partir de um processo racional (na expressão: creio que...) e a fé professada a partir de uma dinamicidade presente, segundo o autor, já presente nos momentos históricos em que ela se desenvolveu (Creio em...). Assim, o problema estaria na produção intelectual dos que conviveram com Jesus, na comunidade primeva (o primeiro grupo) e os que vieram após o evento pascal. Para o autor, essa busca de racionalidade, do segundo e terceiro grupos, provocou um anúncio não fiel por uma Teologia Fundamental. A organização sequencial dos acontecimentos (descoberta do tumulo vazio – aparições – Ascensão – Pentecostes) se impôs a partir de Lc 24 e At 1-2. Mas, os «testemunhos» propõem de fato esquemas variados, como se pode observar nos relatos de Mt 28 e Jo 20-21, onde a «distinção dos momentos» e a «distribuição do tempo» divergem dos demais relatos da ressurreição de Jesus.

Às formulas estruturadas – confissões de fé, etc – elas deixam «supor» um entendimento diferente do acontecimento, pois se trata aí de uma «condensação verbal» de uma experiência espiritual complexa. Não podemos esquecer que quem sistematiza uma primeira Cristologia é Paulo e é a partir dessa «racionalidade» é que se vão compor outros textos-relatos que alcançarão maior unidade nos textos do Evangelho de João. Mesmo Paulo em sua elaboração teológica sobre a ressurreição de Jesus – em 1Cor 15, 4 – conserva as suas raízes farisaicas e a visão judaica e não a grega, ao aplicar uma concepção apocalíptica judaica quanto à ressurreição. Ele vê naquilo que lhe fora transmitido sobre Jesus elementos de seu próprio aprendizado, desde a sua juventude em Jerusalém, junto ao seu professor, contratado pela sua família, Gamaliel. Paulo contempla a situação dos cristãos mergulhados numa cultura helênica de crise de sentido (cf. 1Cor 15, 12-19). O «kérigma» da ressurreição de Cristo elaborado por Paulo traz em si um juízo que fragmenta a vida real do indivíduo e da comunidade cristã. Aos cristãos de origem grega, Paulo elabora uma síntese de culturas, tendo por base o rigor vetero-testamentário, com o objetivo de alterar comportamentos e visões daquele mundo. Esse mesmo juízo Jesus iria aplicar diante daqueles que negavam a ressureição – os saduceus. Diante dos seus inimigos declarados Jesus se utiliza do pensamento dos fariseus, como vemos em Mt 22,23-32 e em At 4,1ss.

Entretanto, o discurso dos «apologistas» dos séculos II e III centrou-se não na ressurreição de Jesus, mas na «ressurreição geral dos mortos ou da carne», de que a ressurreição de Jesus constituía o exemplo por excelência (v. Taciano na Síria, Atenágoras de Atenas, Irineu de Lyon, Quintus Septimius Florens Tertullianus - Tertuliano, na África - e Orígenes de Alexandria, no Egito). A problemática da ressurreição de Jesus se tornou ponto pacífico no século IV; entretanto, isso provocou outra reflexão não mais sobre a morte e a ressurreição de Jesus, mas, sobre a «Encarnação», a problemática da «humanidade e da divindade» de Jesus. Por isso, o período seguinte será marcado pela elaboração de teses reconhecidas posteriormente pelos Concílios de Éfeso e Calcedônia, como heréticas ou apócrifas.

Embora reconheça que a profissão de fé niceno-constantinopolitana apresenta uma «fé dinâmica», o autor enxerga dificuldades para que fiel moderno compreenda essa fé, pois a «fé dinâmica» é para ser vivida e não tão-somente «compreendida» pelos atuais paradigmas da razão.

O autor faz ainda referência às diversas culturas pagãs no Oriente Antigo que acreditavam numa vida após a morte física. Destaca que Israel, portanto a cultura judaica, não tinha esse elemento sedimentado na sua construção cultural. Lembra que na Bíblica hebraica o «Sheol» aparece mais como um elemento escatológico do Antigo Testamento. Mas a fé numa vida após a morte timidamente entra, sobretudo nas culturas populares judaicas, como um movimento religioso paralelo aos escritos bíblicos e dos ensinamentos rabínicos para uma explicação das perseguições políticas, econômicas e religiosas por parte de outros povos; são as camadas populares que oferecerão o elemento racional fundamental para compreender a realidade daquele momento histórico: é por causa da fidelidade do povo hebreu à Aliança de Deus, uma sucessão de promessas vitais, em que se poderia acreditar que o «corpo» mesmo morto continuaria «vivo». Essa perspectiva entra na versão da Bíblia hebraica para os judeus da diáspora – a «Septuaginta» ou a «Bíblia dos LXX», no chamado grego «koiné», ou seja, o grego de linguagem popular.

Finalmente, o autor apresenta o motivo de sua angústia: a descristianização e um retorno a um processo de «neopaganização» dos povos europeus tendo por razão principal uma sensação de engano provocado por uma falta de crítica. Na linguagem do autor: a Igreja ofereceu aos povos a fé cristã como um doce gostoso, uma fé de imagens e mitos, mas viciante (o chocolate) e não ofereceu um alimento mais sadio e revigorante para o corpo e para as consciências (o pão integral). O autor, em sua obra, parece acreditar que somente agora, no final do século XX e nas primeiras décadas do século XXI, todo o arcabouço do pensamento iluminista começa a fazer efeito e a penetrar nas consciências dos povos.

O autor sugere um caminho. O primeiro ponto é uma revisão geral da escatologia contida nos ensinamentos doutrinais, com uma fundamentação capaz de transformar o fiel de hoje para o contexto e o mundo históricos de onde os textos e os fatos aconteceram. O segundo ponto é a urgente e necessária reelaboração num olhar novo, separando a verdade da fé dos mitos que se incorporaram na vida e nos costumes das comunidades cristãs, ou seja, uma fé mais racional. Assim, numa perspectiva nova abolir os «novíssimos» como conteúdo de fé bem como a imagem de um Deus castigador.

O autor retoma o que parece ser o olhar teológico e pastoral de Paulo ao enfrentar não para ele, mas para as novas gerações de comunidades cristãs, culturas pagãs fortemente combatidas por ele que utilizou os conteúdos da Bíblia hebraica como argumento de razão, portanto em sua perspectiva argumentos não mitológicos. Na verdade, não se aborda na obra os «impactos práticos» que isso produziria na instituição eclesiástica; não nos esqueçamos que o movimento iluminista que produziu uma liturgia exacerbada do culto à razão gerou um pensamento laicizista como base de governos autoritários que, contrariamente à sua suposta «saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram», nas palavras de Kant. Também o autor é pouco crítico ao analisar a «estratégia» utilizada por Paulo no processo da primeira «inculturação» da fé cristã que a apresentou teologicamente e pastoralmente como «algo diferente» para os pagãos convertidos ao cristianismo de então.

Parece propor o início de um «novo tipo de diálogo inter-religioso» entre as comunidades cristãs e as «novas comunidades» formadas em sua maioria pelos novos-pagãos que, «de per si» rejeitam, do ponto de vista religioso qualquer tipo de instituição e do ponto de vista político, a figura e o papel do Estado. Talvez, uma leitura da Exortação Apostólica «Ecclesia in Europa», de 1991, à qual o autor parece responder de forma velada, nos ajude a entender melhor a gravidade, as dificuldades e os elementos de esperança pela qual passa a Igreja na Europa.

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